UM DESENHO POR SEMANA

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

É sempre bom ter uma velhinha a tiracolo














Existe coisa mais esquisita e desconfortável do que sala de espera? OK, pode até ter, mas quanto você está lá, não dá pra lembrar de nenhuma.


Dia desses fui resolver questões de freela com uma agência. Até aquele dia fizemos tudo via fone e e-mail. Marcamos então, para acertarmos as coisas numa reunião ao vivo. Quando cheguei lá o endereço não era da agência mas sim do cliente que a contratou e que por sua vez solicitou meus serviços de redator.

Uma sala de espera. A recepcionista no fundo da sala, mas de frente para todos. “Todos” nesse caso eram candidatos a uma vaga de emprego naquele lugar. Uns de frente pros outros. “Todos” menos eu que espera meu contato da agência. Desconfortável.

Não importa de que estabelecimento é a sala de espera. É claro que no caso da espera de um resultado exame médico grave é bem pior. Aliás, pior não, diferente, porquê o que falo não é sobre a expectativa do resultado da espera, seja ela exame, entrevista desemprego ou um tratamento de canal. Falo sobre o desconforto, o silêncio, os olhares e desvios de olhares. Sobre a falta de ter o que fazer e pensar, as caminhadas até a janela, o medir do ambiente, o perceber de cada defeito, rachadura ou falha na pintura.

Me refiro ao perceber do nervoso dos outros, de ver uma pessoa estalando os dedos enquanto outra ainda verifica o celular a cada cinco minutos.O enfrentamento da espera nesses lugares é basicamente fuga. Fuga das pessoas de quem se está perto, fuga dos olhares. Você acaba fazendo todas as coisas já citadas não para passar o tempo mas para se ver seguro da incômoda e silenciosa presença dos outros.

Ou ainda simplesmente porquê a sala de espera faz isso conosco. Nos põe em silêncio em cadeiras ou sofás que ainda que na melhor das hipóteses sejam confortáveis, parecem ter formigas saindo do estofado deixando a gente incomodado, inquieto.

Não há solução para a sala de espera. Minto, talvez haja uma. Ter uma velhinha em mãos. Uma dessas de cabelos brancos (às vezes violetas, às vezes meio amarelados). Enfim, uma senhora idosa. Elas não se importam com a SALA DE ESPERA. Essas destemidas não estão nem aí para a presença desconfortável do ambiente, e o enfrentam com galhardia e bravura. Vão logo fazendo comentários sobre a espera e dois minutos depois centenas de histórias se descortinam como se ali fosse a sala da casa delas.

Ainda assim a SALA DE ESPERA não deixa de ser A SALA DE ESPERA, mas fica ali de canto sabendo que está sendo vencida por mais uma velha amazona de cabelos brancos (ou violeta, ou amarelados)

Infelizmente eu não tinha uma velhinha à mão naquele dia. Tinha só meu bloquinho e minha caneta. Comecei a escrever isso lá, mas ainda assim perdi a paciência, não com desconforto, mas com o chá-de-cadeira e acabei indo embora.

Fui porquê não aguardava um importante exame médico ou uma entrevista de emprego e principalmente porquê eu não tinha uma velhinha em mãos.

4 comentários:

  1. Atacando de crônica agora hein. Que beleza. O homem é praticamente um polvo. Joga em todas as posições. Parabéns, muito bom. Versatilidade.

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  2. Não tem jeito, paciência, longanimidade e desenvoltura a gente só consegue mesmo, é com o passar do tempp.Dá-lhe treino! Jane

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  3. Valeu filhão, por essas e outras que a sua mãe tem sempre razão, não é? Néli

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Expresse-se aqui.

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