UM DESENHO POR SEMANA

segunda-feira, 22 de março de 2010

Chorar de tanto rir

No filme Antes de partir, ( The Bucket list, 2007), Jack Nicholson e Morgan Freeman fazem aquela famosa lista de coisas a experimentar nos últimos meses de vida. Ao ver o filme esse fim de semana, um dos itens da lista chamou minha atenção e me fez lembrar de um fato e refletir sobre ele.

Na lista havia coisas como “saltar de paraquedas”, “ver uma coisa grandiosa”, “fazer uma tatuagem” e o que me provocou lembranças, o item “rir tanto até chorar”.

Em nenhum das experiências, mesmo contemplando as pirâmides do Egito, as personagens carregavam consigo câmeras ou filmadoras. Óbvio, estavam para morrer, iam guardar lembranças para quê? Bastava a eles aproveitar sem se preocupar com o amanhã.

De um tempo para cá passei a ser daqueles que tira foto de tudo, grava tudo. Já tiraram sarro da minha cara por isso, minha esposa já até brigou comigo por isso uma vez. Fiquei assim depois que percebi que diferente de muitos amigos eu não tinha lembranças palpáveis ou visíveis de muitas ocasiões felizes da minha vida. Ao casar, decidi então que não perderia nada desse novo começo, até porque se na multidão de fotos uma fosse irrelevante era só apagá-la.

Foi então que ao ver o filme lembrei de um fato pré câmeras digitais, bem antes de casar, bem antes de minha promessa de registrar o máximo possível da minha vida. Era um item da lista dos dois senhores, provavelmente o dia em que mais ri na minha vida, até chorar.

Três jovens amigos no lado de fora do que chamávamos de chácara, um lugar de refúgio, descanso, curtição e relaxamento. Era uma madrugada fria. Envoltos em cobertas, sentados naquelas cadeiras de plástico, conversávamos. Falávamos sobre o que estávamos fazendo, sobre o que queríamos, sobre o futuro.

Falávamos sobre pretendentes ou não a futuras esposas. Uma em particular de um membro do trio ali presente. Conversávamos sobre o que ele esperava da pessoa com quem passaria o resto da vida. E tirávamos sarro disso. E brincávamos com os requisitos e ou a falta deles, e não senhoras e senhores, não falávamos de atributos físicos.

Uma piada bem sem graça se tirada do contexto saiu. A moça não servia, “Ella no tiene diploma” ele soltou em bom portunhol. E assim começou, com essa frase ridícula, uma sequência de gargalhadas infinitas. Risadas com sons esquisitos, perda de fôlego, dor na barriga e o ápice, choro.

Rir tanto até chorar.
A lembrança que eu tenho é que aquilo durou horas e não me recordo como terminou.

Ninguém gravou, tirou fotos, não está no youtube ou em um clipe de casamento. Mas é a lembrança do dia em que mais ri na minha vida, ri até chorar.

Não precisamos registrar nada, é legal, é bom, mas nós não precisamos. Talvez registremos tudo com medo de futuramente esquecer de um ou outro momento, ou para ver quanta coisa fizemos na nossa vida. No entanto, ao lembrar daquele dia, percebi que momentos memoráveis são aqueles que ninguém esquece.

Talvez eu não me lembre da cor das roupas que vestíamos, que ano foi ou como terminou. Mas meus amigos e meu sorriso estão guardados ali naquela chácara, numa madrugada fria, na lembrança do dia em que mais ri na minha vida e que me garante sorrisos no rosto toda vez que me lembro.
Assim, sem fotos ou vídeos, apenas a recordação de um dia memorável.

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