UM DESENHO POR SEMANA

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A minha barba estava desse tamanho

 (Dê o play e manda ver no texto. Ou vice versa. Ou só leia o texto. Ou faça como você quiser)



Todo mundo - principalmente se você for homem - tem um momento de agir como adolescente ainda que já seja bem adulto. Nos últimos meses, à beira de completar meus 33 anos, eu passei por isso. Explico.

Depois de quatro meses vi meu rosto pela primeira vez. Cansado de ser normalzinho havia deixado minha barba crescer. Aconteceu depois de minha esposa pedir pra eu deixar um pouco. Ela não queria uma barba grande, apenas aquela por fazer, de dois, três dias. Mas eu me empolguei e não a cortei por 4 meses. É bom deixar claro que a aparava constantemente, mas não raspei mais. Até hoje.

Nesses 4 meses, espanto e admiração eram uma constante toda vez que encontrava alguém daqueles que me conhecem há tempos, mesmo que não fossem tão próximos.
Meus amigos de profissão diziam “agora você está com cara de publicitário.”
O pior é que comecei a e sentir mais “publicitário” mesmo, seja lá o que isso queira dizer.

O tempo passava e eu com toda minha “publicitariedade” me sentia parte do grupo. Talvez me sentisse até mais criativo.   

Com o perdão de mais um neologismo infame, adolescentemente eu entrava nos ambientes com uma persona nova, comunicóloga, pseudocriativa e bacanuda. Meus amigos da igreja, da família, conhecidos do meu antigo trabalho, não enxergavam meu novo “eu publicitário”. Para eles eu só tinha uma barba, um visual diferente, para alguns feio, para outros mais feio ainda.

Há um mês minha esposa pediu pra eu tirar a barba. Mas eu me acostumei com ela, não me sentia mais o normalzinho do início do texto. A barba substituía, brincos, alargadores, anéis e tatuagens, jargões e palavrões que eu nunca ia usar, no papel de me deixar menos comum.

Foi quando numa "DR" (se você tem um relacionamento sabe o que é) no meio da conversa a Cyn falou novamente sobre minha barba. Depois de um tempo fui tomar banho e ao me olhar no espelho me vi dentro da música dos titãs dizendo “no espelho, essa cara já não é minha”.

Não era mesmo. Nenhum problema em querer mudar às vezes. Mas aquilo não era eu. Percebi que era uma representação de uma fase, de um tempo repensando algumas coisas - mudança de visual geralmente é isso. Percebi várias coisas que eu não reconhecia em mim, hábitos, pensamentos, coisas que agora fariam parte de mim e outras que definitivamente não eram a minha cara.

No banho tirei a barba. E com lâmina de barbear para ser mais dramático. Depois de um espanto ao olhar minha cara branca no espelho, senti que era eu novamente. Tinha a liberdade de não ter estilo, de não ser estranho ou de aparentar ser criativo.

Voltei a ser um cara casado, que ama tocar seu violão na igreja, desenhar rabiscando, escrever, que não fala palavrão e não usa adornos pelo corpo e que sim, trabalha com criação publicitária.

“Será que eu falei o que ninguém ouvia será que escutei o que ninguém dizia?” É, descobri novamente quem eu sou,  e já sei que sem qualquer revanchismo, não vou e não preciso me adaptar.         
   

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