UM DESENHO POR SEMANA

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Faltam-nos pedaços.


Nós campineiros estamos sofrendo uma enorme crise política. Gigantesca. Mas antes de pensar em falar mal da classe política (coisa que provavelmente você e eu já fizemos bastante nos últimos dias com todo o direito) falarei de nós todos.

A política é reflexo da sociedade que vota nela. Sim, mais taxativo impossível. Mas pensemos juntos. Ninguém nasce com um cargo ou com poder tal que inicie a vida pagando propina, desviando verba etc. É comum dizermos que se alguém entra para a política dificilmente ficará íntegro por muito tempo. Realmente é difícil, mas creio que o problema se inicia antes. Começa na completude de cada ser humano, aquilo que comumente chamamos de integridade.

A palavra “íntegro” significa ser inteiro, exato, completo, e eu costumo dizer que é não possuir brechas ou espaços, como se houvesse uma proteção ético-moral que nos revestisse contra qualquer tipo de contaminação no caráter. E esse caráter inteiro, sem brechas deve ser formado antes que o indivíduo exerça qualquer cargo de poder. Assim, qualquer cidadão deveria estar inteiro antes de poder entrar na política. Não podem faltar pedaços.

E como é que se faz para garantir que não faltem pedaços?

Um fragmento vem com a família, outro com alimentação e crescimento físico. Outro ainda com educação moral doméstica e educação escolar e acadêmica fora de casa. Outro pedaço com formação de caráter através do trabalho, da necessidade de esforço, da busca pelo mérito. Um bloco de exemplo por parte de quem é ou já foi autoridade, no lar, na escola, nas igrejas, entidades, e nos cargos públicos. Faltam aqueles pedaços de regras que servem de limites e norte para alguma de nossas ações. Pra tapar os buraquinhos, lazer, carinho, amor, arte, esporte e diversão.  

Tudo isso ainda não é garantia de integridade, pois cada um escolhe o que faz com seus pedaços, inclusive podendo jogá-los fora. Também existem pessoas que não tiveram metade desses elementos em sua formação e são mais completos que qualquer um. Mas certamente, quanto mais inteiro o indivíduo estiver antes de ter qualquer poder em suas mãos, menor é a chance de que alguma negociata, adentre em sua fortaleza.

A sociedade que reclama dos políticos é a mesma que começa de pequeno a abrir brechas para que os políticos saiam dela. Sim, essa sociedade é a mesma que joga lixo no chão. É a mesma que coloca o carro na vaga de idosos ou deficientes por apenas 5 minutos. É aquela que sonega impostos com a desculpa de que existem muitos tributos. Ou que anda a 140 km em uma via de 100 por saber dirigir muito bem. É a mesma que pensa na própria necessidade do momento esquecendo-se da do outro sempre. É a mesma que saqueia quando um caminhão tomba. É a mesma que faz abaixo-assinados contra a instalação de metrôs por causa de “gente diferenciada”.   

Talvez você faça tudo direito, talvez você seja inteiro. Então você sabe que faz parte da solução. Você não precisa se candidatar a nada, ser professor, sacerdote ou um caro palestrante. Você apenas precisa viver sem se desculpar por seus deslizes a partir do que outra pessoa faz de errado. Basta ficar com seus pedaços todos aí com você bem à mostra no dia a dia e ser base para outros juntarem os pedaços que talvez faltem neles.

Aí quem sabe paremos de produzir gente incompleta, que gosta de levar vantagem, seja no trânsito ou no congresso nacional.

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