UM DESENHO POR SEMANA

terça-feira, 26 de julho de 2011

Amy Winehouse, Kurt Cobain e o Datena.


Há mais ou menos um mês vi em um documentário sobre Rock na TV Cultura. No episódio que falava da trajetória do Nirvana até o fim trágico com o suicídio de Kurt Cobain, algo me chamou a atenção: Michael Stipes, vocalista do R.E.M, dava um depoimento falando sobre que aquilo era uma tragédia anunciada. Dizia que por acreditarem nas mesmas coisas, por se posicionarem contra o exagero das luzes dos holofotes, exposição na mídia e exploração das grandes gravadoras, criaram uma amizade que permitiu a Stipes se aproximar de Cobain e tentar ajudá-lo em suas crises, dores e desilusões com relação ao próprio fazer artístico.

Ele dizia que havia tentado fazer o vocalista do Nirvana mudar de ares, sair do ambiente em que vivia, compor, pois via que ele estava tomando um rumo que em breve não teria mais volta. E todos sabem o que aconteceu.

Nas conversas do domingo, nos noticiários de hoje e na chegada do trabalho, “tragédia anunciada” como no caso de Cobain, era a expressão mais repetida. Mas se no caso de Kurt Cobain as pessoas próximas é que sabiam, no caso de Amy Winehouse, o mundo todo esperava. E esperava com faca e garfo nas mãos para devorar os últimos nacos da artista que nos últimos meses não passava de uma cantora zumbi.

Amy (como agora depois da morte todo mundo chama como se fosse a mais íntima das amigas) nos últimos meses foi empurrada bêbada para os seus shows, assim como um outro ícone Elvis Presley que ia à base de estimulantes para as derradeiras apresentações.  O show passou a ser a visualização de vexames. Aquilo passou a ser Amy Winehouse. E se é isso que temos para vender, o que fazemos? Vendemos!

Nos portais e comentários muito se falou dos jovens artistas que morreram com a mesma idade da senhorita Winehouse, mas foi Cobain que me lembrou ela. No caso de ambos as luzes, a exposição e a necessidade de responder a uma requisição de público, mídia e contratos os empurrou para a morte.  Sim, é claro que cada um faz as suas escolhas e eles escolheram errado, mas é fácil falar aqui da minha ou da sua poltrona, no conforto de ninguém conhecer o seu rosto e a exigência ser apenas a do seu chefe. É mais fácil quando sua vida é separada do seu trabalho. Quando sua imagem apenas tem que ser bonita das 08 às 18.

Nessa loucura toda, há ainda adoração por aqueles que morrem cedo, que passa por uma idealização a partir da obra que fizeram. Esquece-se no entanto, que houve ali muito sofrimento, e que ninguém pode garantir que se cada artista pudesse trocar qualquer dos versos e notas pelo alívio imediato da dor, o fariam sem pestanejar, mesmo que tivessem que abdicar da fama ou do reconhecimento.  Por isso faziam o que faziam.

Para mim os últimos meses da cantora de soul, foram como um programa do Datena: exposição gratuita da miséria humana, com um disfarce de preocupação com o que acontece embutida.

Por isso tudo, não olho Kurt e Amy como dois grandes nomes da música ou da cultura pop (Cobain deve ter se revirado no túmulo). Eu sempre penso neles como pessoas que sofreram muito, tiveram uma existência demasiadamente difícil e que colocaram toda a sua esperança em seu fazer artístico.

E quando por algum motivo as músicas são reproduzidas perto de mim, sinto-me um canibal alimentado-me da dor deles. Por isso não os escuto, e acho que os homenageio como seres humanos dessa forma, não dando maior importância à obra do que ao autor, prestigiando a pessoa e não a persona.

Radical? Talvez, mas é como me sinto. Sempre me doeu ver Amy, desde o dia em que ela disse “No, no, no,” para o seu pai.

2 comentários:

  1. Cara,

    Li sobre esse assunto em vários blogs, uns gostei, outros nada de mais. Mas o seu post, simbolicamente, levou-me às lágrimas por eles (Cobain e Whinehouse) e por mim.

    Joab Barros

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  2. Jean,
    Sem palavras...e nessa galera,infelizmente, incluo Renato Russo e outros mais que frequentam a mídia.

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