UM DESENHO POR SEMANA

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Cegos, surdos e loucos



















Enquanto estou no meio das “mais loucas aventuras” de um casal gestando o seu filho em um país totalmente confuso, irritado,com redes sociais armadas, desinformadas e uma copa do mundo acontecendo, “hoje na sessão da tarde”, penso: o que é que devo fazer da minha mente?

Sim, durante essa loucura toda, minha sanidade é o assunto principal que faz a pulga alojar-se atrás de minha bela orelha. Talvez como  eu, isso também tenha acontecido com você (ou não, você é normal).

Tanta coisa pra pensar, decidir, resolver, realizar e até “prever” que o caso vai ser de manicômio. Por que a gente pensa em nós, egoísmo puro. Aí a gente pensa na criança - que lindo! Sim, mas é a minha criança, então não há tanta vantagem assim - egoísmo quase altruísta. Aí tem o Brasil, as mazelas, o coletivo, a corrupção, a realização, a melhora, a piora, as classes sociais, a administração do país, a cidadania, as opções, a falta delas. As verdades e as mentiras que fazemos delas.

A mistura das personas cidadão, pai, marido, amigo, irmão, tio, colega, profissional, artista fez-se mais confusa. Sim, é questão de terapia, meus amigos. Mas, em uma medida de emergência, resumi todas as questões em apenas uma sofisma tostínica (talvez culpa de minha persona publicitária):   

O que é mais importante: que mundo vou deixar para os meus filhos, ou que filho vou deixar pra esse mundo?

Vou atrás do que for possível para saber mais e fazer o melhor que puder em voto, opinião, textos, conversas, insistindo nos debates em prol do meu país, atingindo a coletividade e conquistando um futuro melhor para o meu filho? Ou foco minhas atenções no trabalho, no microambiente (leia texto sobre isso no Transformai-vos), nas relações familiares nem sempre fáceis, nas dúvidas sobre o parto, no relacionamento com minha esposa, em minha espiritualidade, para ser um pai são e preparar um filho para contribuir com o mundo? (leia aqui o texto de uma mãe pensando nisso)  
Pensa aí.

Pensou? Qual foi a sua conclusão? Bem, eu escolhi a segunda opção. E é um desafio muito maior do que o primeiro. Sei que meu voto vale, acredito que minha opinião vale, que o que digo pode valer pra você, mas preparar-me para criar alguém que possa fazer por seu presente e por um futuro ainda mais distante me parece mais sensato. Vivemos em um mundo onde todos temos opinião, balizada ou não, sobre tudo e a informação é difusa e a propagação de verdades cegas e discursos mudos de intenção coletiva imperam. Um mundo de cegos, surdos e loucos, sem a graça do filme com  Richard Pryor e Gene Wilder. Nesse contexto, investir no futuro com uma peça que depende inteiramente de mim parece ser a melhor das minhas contribuições no momento. O presente caótico não deixa pistas de pra onde vamos e ainda sim tenho esperança. Minimamente, posso pensar no cidadão de daqui há 15, 16, 21 anos, fazendo o máximo pelo microambiente dele, tentando melhorar aquilo que o cerca mais de perto, a começar em mim. Não há responsabilidade mais natural e ao mesmo tempo mais insana. Sanidade, era disso que se tratava esse texto. Que loucura.  

Assim, deixarei o parlatório por hora. Continuarei observando os rumos do país e as intenções dos possíveis dirigentes para fazer minhas escolhas, mas me ausentarei das análises coletivas da relevância ou não da copa e do discurso dessa ou daquela ideologia política. Não mais sofrerei vendo e tentando remediar a desinformação dirigida, preguiçosa e virulenta, travestida de revolta. Esquizofrênicamente, mergulhado em um pensamento ego-altruísta, meu foco é o Pedro. E é pra ele que eu digo: obrigado por trazer sanidade ao seu pai, filho.

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