UM DESENHO POR SEMANA

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Londres sem parar para respirar

Sem pieguismo ou oportunismo, ou qualquer outro ismo, os incidentes na Inglaterra, que começaram como protestos, mexeram bastante comigo. Apesar de chegarmos ao quinto dia de saques, atos de vandalismo e confrontos, estou com o mesmo sentimento de quando vi as imagens pela primeira vez.

Escrevo esse texto ainda assustado, meio que formando uma opinião, lendo, vendo e refletindo sobre diversas teorias das mais direitistas até as mais ingênuas e infantis e tentando equilibrar isso tudo na minha mente.

Obviamente não tenho compromisso jornalístico, tudo o que vejo a respeito está nos canais disponíveis a qualquer pessoa que me lê neste momento.   Assim, hoje escrevo sem fechar um pensamento, como se colocasse minhas impressões em uma conversa mesmo e sei que raramente faço isso aqui no oqéisso.
Dentre os muitos vídeos que vi sobre os distúrbios na Inglaterra vi dois hoje que me chamaram a atenção e me fizeram escrever a toque de caixa, sem fechar o assunto.

Em um deles, um vídeocast da Folha, uma das jornalistas fala sobre não poder condenar as atitudes dos manifestantes e dá entender que protestar com saques e depredações foi uma “estratégia errada” de pessoas que foram violentadas por um modelo de vida comunicado, mas impossível de conquistar já que há desemprego e um histórico de desamparo do governo britânico às famílias então desestruturadas. (veja a baixo)


É bem claro que o correspondente que está em Londres parece ser mais comedido e cauteloso para determinar as razões de tudo o que está acontecendo (talvez até por sua maturidade). Não afirma um motivo, fala apenas das possibilidades.

Em contrapartida, outro vídeo feito in loco, no calor do acontecido em um dos bairros de onde provavelmente vêm os manifestantes, mostra a indignação da moradora do local, com os saques e roubos.  Veja:
   

A disparidade dos dois vídeos me fez refletir. Fica clara a diferença de opinião de quem está no meio do furacão e de quem está vendo de fora mas está próximo e a de quem ainda que estude o caso, está longe, distante do fato. Por essa diferença de visões muita coisa ainda será dita e discutida.

Apesar de existirem grandes diferenças sociais, contextuais, econômicas e até mesmo étnicas, tudo isso me lembra muito nossa desigualdade brasileira, a discussão sobre como tratar os meninos que assaltam nos grandes centros muitas vezes como único objetivo de alcançar um sucesso que está mais perto deles do que o que eles assistem na TV. O revanchismo dos que tem pouco, ou nada contra ‘playboys’ e seus carros, smartphones e vida perfeita aos olhos deles.

Porém vejo também que há a generalização, o esquecimento de que existem pessoas que sofrem igualmente, mas não negociam a moral mais simples e básica de lutar pelo que se quer com armas pacificas como se submeter e trabalhar para os mesmos ‘playboys’, desafogando suas dores e cansaços na crença e devoção a Deus, na arte, ou no simples e longínquo objetivo de proporcionar algo melhor para os filhos no futuro.

E em meio a tudo isso, como disse o correspondente Vaguinaldo Marinheiro, sempre há os oportunistas, sejam eles jovens que aproveitam para ganhar algo em cima mesmo, roubando, fazendo saques e se auto-afirmando, sejam os sociólogos ou jornalistas que criam teses unicamente para aparecer (alguns também na onda da auto-afirmação), ou ainda blogueiros em busca de audiência, travestidos de ombudsman do mundo.    

A única coisa que posso afirmar é que cabe a mim e a você observar, pensar e olhar todos os lados e tentar não ser enganado pela opinião dos que muito dizem ou ainda pela própria certeza baseada na situação cômoda do nosso status social e nível intelectual, seja ele qual for.

Afinal, o mundo é bem maior do que aquele que a gente vê ou experimenta em nosso dia a dia e ainda imensamente maior do que julgamos conhecer com nossa limitada e eternamente provinciana mente humana.

3 comentários:

  1. Esses vídeos trazem mesmo visões muito distintas do que está acontecendo lá. Acabamos por permanecer confusos quanto ao que de fato motiva tudo isso, já que revolta por motivos socio-econômicos não significa revolta por ter ou não um tênis Nike ou um Iphone que acabou de sair.

    Obrigado por compartilhar essas informações!

    Abs!

    Nelson

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  2. Aí vai meu comentário já com posição firmada, de uma mente humana e limitada, etc.

    Já pensou que a paz é um instrumento de controle?

    Todo protesto é crime. Mesmo sem usar a violência Gandhi foi preso e considerado criminoso. Será que ele triunfou porque não usou da violência ou porque teve coragem de violar as leis?

    Oportunistas? Seriam os policiais oportunistas que se aproveitam de um sistema que lhes dá poder acima do bem e do mal? O qual fizeram uso sobre o suposto executado (igual ao Jean Charles)?

    Até onde sei, a violência começou por parte da polícia. A manifestação em busca de justiça foi pacífica e a polícia respondeu com violência. Acredito que a repressão lá é tão grande (Londres é um BigBrother a céu aberto, cheio de câmeras) que tal violência policial foi a gota dágua, a fagulha no barril de pólvora.

    PS: a Folha dá tanta importância pra apurar os fatos que coloca a editora de moda pra comentar os acontecimentos e motivações...rs

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  3. Brasil 2014. Já já a imprensa esquece isso tudo ai.

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