Logo no começo do namoro com minha esposa, eu falei dele.
Ela havia me perguntado sobre o que eu gostaria de ganhar e naquela época era
um relógio. Poderia ser de qualquer marca e mesmo assim não era qualquer
relógio, não pelo preço, mas pelos requisitos.
Tinha que ser preto com mostrador analógico e digital, ter
um cronometrozinho básico, ser nem muito grande nem muito pequeno. A pulseira
não poderia ser muito grossa. Não precisava ter muitas funções, só precisava
responder às exigências anteriormente descritas. E sem muitos rococós, botões
grandes e afins.
Ele seria muito parecido com outro relógio que eu havia
tido, mas melhor, um pouco maior e mais bonito. A pesar das características
simples, achá-lo parecia impossível.
Os anos se passaram e dia dos namorados após dia dos
namorados, aniversários, natal e nada do relógio. Eu mesmo procurava às vezes,
não com muito afinco, é verdade, mas não achava.
Casei e ainda assim ele não apareceu. Os celulares chegaram
e eu já não precisava mais dele para ver as horas. A procura que era bissexta
passou a ser inexistente. A busca pelo relógio perfeito havia cessado, sem
sucesso, mas também sem choro. Desacostumei do suor e da marca da falta de sol
no pulso da mão esquerda. O celular havia substituído a necessidade e o
acessório de moda não era assim tão desejado por mim.
Muitas pessoas também deixaram os seus de lado, trocaram o
invento do Santos Dumont pelo telefone móvel.
Mas algumas outras pessoas nunca aposentaram o acessório de
moda e foi assim que ele sobreviveu. Um invento revolucionário, item
obrigatório a quase qualquer pessoa, passou a ser unicamente parte do vestuário
para combinar com uma camisa, ou com determinada pulseira ou ainda simplesmente
um artigo de luxo para conferir status.
Nessa de moda ou status eu não entrei e o objeto de minha
busca ficou cada vez mais distante. Talvez eu não quisesse realmente um
relógio, senão teria comprado algum que fosse parecido com aquele. Talvez eu
quisesse gastar meu dinheiro com algo que eu realmente gostasse ou precisasse e
nenhum relógio era uma ou outra coisa. Assim como fazemos com muitas coisas,
talvez eu só o tenha idealizado para não o comprar, para que a busca fosse
melhor do que a conquista.
E assim o meu relógio perfeito ficou lá por muitos anos,
esquecido na memória.
Até que há poucos dias, comendo às pressas em um fast food, ele se mostrou a mim. Como qualquer
personagem de desenho animado meus olhos arregalaram-se e quase encostaram-se
no braço do rapaz que o usava. Estava lá, perfeito, preto com seu mostrador analógico-digital,
sem alardes, números gigantes ou marca se apresentando. Depois de uns 8
segundos vidrados nele, eu fiz a coisa mais óbvia naquele momento: num rompante
olhei para a minha esposa, depois para o meu celular, vi que estava 15 minutos
atrasado para um compromisso e disse:
- Vamos embora?
Nunca mais nos encontramos novamente e acho que nem vamos.
Nunca mais nos encontramos novamente e acho que nem vamos.
Curioso que o objeto do texto seja um relógio. Eu sou um apaixonado por relógios de tudo quanto é tipo, cor, tamanho e marca. Não gosto de joias, correntes, pulseiras, aneis... nada disso me seduz, mas os relógios... Talvez seja a fixação pelo tempo, pelo o que ele representa, pelo compasso incessante - tic tac tic tac tic tac... mesmo os relógios digitas têm dois numerozinhos menores que correm, segundo a segundo, nos julgando... um, dois, três, quatro... cinquenta e nove e pronto. Mais ou minuto se foi ou menos um minuto porvir. A busca do relógio perfeito exigiu a maior matéria prima de uma busca: o tempo. Pra buscar o relógio perfeito, precisamos de tempo. Nesse tempo gasto, a vida correu paralela à busca. Pessoas chegaram e foram. E a busca continuava. Até que um dia ela cessou. Não interessam os motivos, mas a busca cessou e o tempo.. ah, esse não para por nada.
ResponderExcluirValeu pelo post Jean.
tsc ..tsc...tsc.. tinha q ser vc.. enrolado e perfeccionista.. como sempre.. ok.. te entendo. sou do mesmo jeito em uma graduação diferente.. ia dizer melhor..mas a humildade não deixou .. auhahahuaa
ResponderExcluirbom curto seu blog.. estou tentando fazer um. depois peço umas dicas. ok
abraço
fred
Rubens, ótima análise, é isso mesmo. Durante a busca o tempo passa independente de encontrar ou não, de desistir ou não...esse tal de tempo é um cara irrefutável.
ResponderExcluirFred, precisando estamos aqui. Volte e comente sempre!
Bacana!!!
ResponderExcluirEu tbem tenho um história de amor com um relógio... ele passou um ano parado guardado em cima do armário, pois ele parou, levei p arrumar e me disseram q ele havia morrido =(
Não consegui dar fim, tentei outros lugares e nada, enfim guardei. Um dia no meio de uma faxina derrubei o pobre "defunto" no chão...adivinha? ele simplesmente voltou a funcionar e nunca mais parou... sabe onde ele tá agora? no meu braço... =)
Esse trecho é tão bom que façø qeustão de repetir como um mantra: "Assim como fazemos com muitas coisas, talvez eu só o tenha idealizado para não o comprar, para que a busca fosse melhor do que a conquista."
ResponderExcluirParabéns meu amigo, mais uma vez provocando a reflexão.
Eita coisa boa... geração de comentários e reflexão! É disso que eu tô falando.
ResponderExcluirTens razão Rubens, isso que é legal dos blogs...Bóra
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