UM DESENHO POR SEMANA

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Povos, elefantes e reis



O que se espera de líderes em momentos de crise? Que sejam austeros, se posicionem buscando a unidade e sentimento de nação, que mostre preocupação com o momento pelo qual o país passa, certo? E o que se espera de um povo? Que não se acomode, se manifeste, pense no bem comum, seja cidadão.

Mas o que temos no caso do safári do Rei Juan Carlos não é uma coisa nem outra. O caro monarca espanhol mostra com o último acontecimento, tudo aquilo que ele e a maioria de reis e rainhas na Europa há muito tempo não são, líderes.
E a humanidade, na figura do mundo globalizado, pinta um retrato de si mesma, deixando claro que discurso no lugar de real preocupação não é exclusividade de políticos e governantes.

As primeiras manchetes do caso e as reações mais calorosas inicialmente, davam conta do fato de Juan Carlos ser Presidente da WWF, entidade defensora do meio ambiente dos animais. A turba se referia à incoerência do Senhor Juan, defender os animais e matar um elefante por esporte. Sim, é incoerente e não, hoje não há mais lugar pra caça dita esportiva principalmente para um representante reconhecido de todo um país.  

Mas o que deveria chamar a atenção, em tese, deveria ser o homem e não um elefante.
Quando em meio há uma crise que bate forte em seu país, o Rei de Espanha vai a um safári e antes de matar qualquer animal, ele mostra desprezo pelo homem, seu antigamente chamado súdito e hoje cidadão de seu país.

Com sua gastança bonachona, mostra que não dá importância para o que está acontecendo, para como a população está, que isso gera descrédito para o seu país, que só piora o clima interno, dificultando ainda mais a situação. Em um momento de crise esperava-se no mínimo discrição do monarca. Como no caso retratado no ganhador do Oscar, O discurso do Rei, em que ele unicamente precisava acalmar a população em uma situação de crise. Não ia tomar atitude nenhuma, não tinha poder prático para isso, apenas precisava mostrar seriedade e tranqüilizar o povo.

Mas e o povo?

O povo erra da mesma forma, principalmente fora das fronteiras espanholas. Em vez de enxergar esse desprezo do Rei Juan Carlos pelos milhões de cidadão de seu país colocam o foco em um elefante. Que se danem as pessoas! Que absurdo, um elefante morreu!

Vivemos em um momento de inversão total de valores (aliás falar, valores é quase proibido hoje em dia, quando alguém ouve essa palavra entende “moralismo”). Por causa de nossos próprios erros, preferimos o discurso a lutarmos pela humanidade. Pensamos no conceito, e não no homem. Conceito de meio ambiente, conceito de sustentabilidade, conceito de convivência, conceito de tolerância, conceito de mundo global, conceito de cidadania. Bonito passou a ser o conceito, quando a finalidade de todos eles deveria ser a coletividade. Ser sim sustentável, tolerante (palavra ruim), cidadão, global em prol da coletividade e não da beleza do discurso.   

Matar um elefante por brincadeira é absurdo. Ignorar milhões de pessoas é muito pior. E isso a gente faz todos os dias pelas ruas e até com quem está próximo. Por que razão um Rei não faria com pessoas das quais ele nem chega perto? 
Povo em crise? Que comam brioches!

Um comentário:

  1. A morte do elefante, embora estúpida, foi consequência do descaso bem observado por você.
    Dizem que quem maltrata um animal, maltrata seu semelhante, mas o correto é o inverso: quem não está nem aí para seu semelhante, fere o animal ou o trata como um deus.

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