É assim também com o que se vê, se ouve por aí. Enquanto você
aspira ser como aquele alguém que sai com os amigos, compra os próprios discos,
se veste como quer, enfrenta o mundo, aprende algumas coisas mais cedo.
Foi assim comigo. Tenho dois irmãos mais velhos e foi pelos
caminhar deles que aprendi a gostar de esporte e a escutar música. Pelos
ouvidos deles, ainda menino escutei o que imagino, a maioria das crianças de sete,
oito anos não escuta. Fui apresentado ao Beatles, depois a todo rock dos anos 80
enquanto ele acontecia com a melhor fase dos Titãs, Legião Urbana, Ira, Barão
Vermelho, ouvi o pop “Zen Surfismo” de Lulu Santos e tive minha primeira
experiência de blues com o Sr. B.B. King, nunca imaginando que um dia estaria
tocando uma guitarra, usando a blue note
dentro de uma igreja.
Mas o meu destaque aqui não tem a ver com guitarras, mas com
Viola, mais precisamente Paulinho da Viola.
Depois de assistir uma matéria sobre os 70 anos do músico que serão completados em novembro de 2012, vieram as lembranças.
Era meu irmão quem o escutava. Se as letras teoricamente não
faziam lá muito sentido para mim na época, embora algumas eu até entendesse, o samba elegante de
Paulinho me era um som familiar. Lembro-me de gostar daquilo desde sempre. Não
tive que aprender a ouvi-lo, como aconteceu, por exemplo com o Blues. A voz de
Paulinho ao contrário de todo o rock oitentista - e aqui não há uma crítica – não
protestava, me levava. Não gritava, sussurrava docemente, lamentos de amor,
alegrias simples, e reflexões da vida.
Paulinho da Viola era o contraponto democrático, sem almejar
ser. Era o violão sem aditivos, era o simples dizer e não o tentar ser ouvido. Era
gostoso de ouvir e se no futuro suas letras seriam parte do que é escrever pra
mim, tanto melhor.
Mas mudemos o tempo verbal, não era, é. Paulinho continua
desfilando a elegância, fazendo seus instrumentos e de sete em sete anos criando
novos álbuns sendo novamente o contraponto, criando e não produzindo.
Salve o samba, salve o contraponto.
Salve o conceito de trabalho do artista.
Salve os irmãos mais velhos.
Salve os setenta anos de Paulinho da Viola!
Trecho do DVD Meu tempo é hoje, 2003 (inteiro no link)
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