UM DESENHO POR SEMANA

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Quando penso no futuro não esqueço o meu passado

O bom de se ter irmãos mais velhos com uma boa diferença de idade é que você recebe o presente de ter alguém passando pelas coisas antes. Você absorve possibilidades, ainda que inconscientemente, para o próximo passo dado no crescimento.

É assim também com o que se vê, se ouve por aí. Enquanto você aspira ser como aquele alguém que sai com os amigos, compra os próprios discos, se veste como quer, enfrenta o mundo, aprende algumas coisas mais cedo.

Foi assim comigo. Tenho dois irmãos mais velhos e foi pelos caminhar deles que aprendi a gostar de esporte e a escutar música. Pelos ouvidos deles, ainda menino escutei o que imagino, a maioria das crianças de sete, oito anos não escuta. Fui apresentado ao Beatles, depois a todo rock dos anos 80 enquanto ele acontecia com a melhor fase dos Titãs, Legião Urbana, Ira, Barão Vermelho, ouvi o pop “Zen Surfismo” de Lulu Santos e tive minha primeira experiência de blues com o Sr. B.B. King, nunca imaginando que um dia estaria tocando uma guitarra, usando a blue note dentro de uma igreja.

Mas o meu destaque aqui não tem a ver com guitarras, mas com Viola, mais precisamente Paulinho da Viola.

Depois de assistir uma matéria sobre os 70 anos do músico que serão completados em novembro de 2012, vieram as lembranças.

Era meu irmão quem o escutava. Se as letras teoricamente não faziam lá muito sentido para mim na época, embora algumas  eu até entendesse, o samba elegante de Paulinho me era um som familiar. Lembro-me de gostar daquilo desde sempre. Não tive que aprender a ouvi-lo, como aconteceu, por exemplo com o Blues. A voz de Paulinho ao contrário de todo o rock oitentista - e aqui não há uma crítica – não protestava, me levava. Não gritava, sussurrava docemente, lamentos de amor, alegrias simples, e reflexões da vida.

Paulinho da Viola era o contraponto democrático, sem almejar ser. Era o violão sem aditivos, era o simples dizer e não o tentar ser ouvido. Era gostoso de ouvir e se no futuro suas letras seriam parte do que é escrever pra mim, tanto melhor.

Mas mudemos o tempo verbal, não era, é. Paulinho continua desfilando a elegância, fazendo seus instrumentos e de sete em sete anos criando novos álbuns sendo novamente o contraponto, criando e não produzindo.

Salve o samba, salve o contraponto.
Salve o conceito de trabalho do artista.
Salve os irmãos mais velhos.
Salve os setenta anos de Paulinho da Viola!

Trecho do DVD Meu tempo é hoje, 2003 (inteiro no link)

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