UM DESENHO POR SEMANA

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A praça é nossa. Nossa.


O título não se refere ao programa, mas bem que poderia ser.
A praça em questão existe mesmo numa cidade, em uma rua, tem grama, banco e parquinho, tudo de verdade e lá não há figurantes.
No feriadão prolongado (para alguns) que tivemos na última semana, passei por Águas de Lindoia, a capital nacional dos encontros de amantes de carros antigos.
Indo pra lá me surpreendi com ela, a praça. Ficava em um canto, no sopé de um monte, próximos aos hotéis e o local das exposições de carros. Chamou-me a atenção a placa bem em frente a ela: “A PRAÇA É NOSSA”. Passamos.
Na volta pra casa saindo da cidade, lá estava ela (e não poderia ser diferente) novamente. Raramente em uma viagem vemos a mesma coisa duas vezes, na ida e na volta. Mais uma vez a placa atraiu meu olhar e agora minha mente. “A praça é nossa...” comecei a pensar nos diferentes significados daquela pequena praça que não tinha coreto, fonte ou pipoqueiro. Como ela surgiu ali naquele canto? Um lugar revitalizado pela prefeitura? De repente ali era um local meio esquecido, que há tempos juntava ratos e outros moradores mal quistos em uma construção antiga, abandonada e depredada. Ou talvez fosse só um canto que não tinha nada e dois ou três comerciantes foram lá e colocaram alguns brinquedos para seus filhos e netos brincarem. “A praça é nossa” significava então “nós fizemos, resolvemos, é de todos, é nosso”. Nessa possibilidade não era o poder público, mas sim os próprios moradores que a fizeram e assim a praça era realmente algo vindo do coletivo, era “nossa” do início ao fim.
Nossa. O pronome ainda que possessivo dá um chute no egoísmo. Possessivo coletivo, oqéisso? A praça é “nossa”, por autoria, por uso, por naturalidade, ou por receptividade.
A posse do que não é meu, mas é meu quando também é dele, dela, de todos.
O “nosso” é querido, é afável, é grupo, é família. É ligação, é pertencimento plural que não se perde. O nosso é o princípio do amor, o desprendimento do eu, da minha necessidade, para a sua somada com a minha. O nosso é uma ilha em que cabe muita gente. O nosso é uma praça da gente.
E a gente, você e eu, torce o nariz para aquele humor simples, antigo e tradicional da praça da TV. Não sei a razão da praça de Águas de Lindóia se chamar  “A praça é nossa”.  Pode ser pelo fato de todo mundo conhecer o programa. Pode ser pelo coletivo tão exaltado aqui nessa crônica, ou até mesmo pelas duas coisas. Voltando ao show da TV, o nome original do programa apresentado por Manoel de Nóbrega em 1957 era “Praça da Alegria”, alterado quando o formato foi para o SBT com o interminável Carlos Alberto de Nóbrega, filho do primeiro.
Talvez essa, no final, seja a explicação, o desejo e o motivo: a alegria. No ideal, toda praça deve servir para a expressão dela, das formas mais pueris, bobas e antigas, como um espantar de pombos pela corrida de uma criança, um passeio de mãos dadas com a namorada, ou ainda a finalização de uma requentada piada de bordão contada por um personagem fantasiado. O que vale na praça é a tal da alegria. E se for assim, que não seja apenas a sua ou a minha.

Um comentário:

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