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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Juventude: foi o que eu vi no youPIX


Um retrato instagrâmico da juventude, de como o mercado a enxerga e de como a coisa muda mas continua a mesma. Foi isso que eu vi no YouPIX. Escrevo esse texto 4 dias depois, com as impressões mais curadas porém ainda sem intervenções externas.
O festival vale mais para a observação de como o público se comporta, quem está de olho nele e o que atrai sua múltipla atenção, do que qualquer conteúdo que possa ser ministrado em sua programação.
Vamos lá então: Um retrato da Juventude
Caótico como a rede elétrica de um show de rock mambembe, cheio de braços como um polvo, barulhenta como uma feira livre.  O evento retratava basicamente o que é o mundo jovem quase que simbioticamente conectado hoje em dia. Tudo ali acontecia ao mesmo tempo, como um browser cheio de abas abertas ou um app de smartphone que centraliza todos os seus perfis nas redes sociais. Em diversos hubs de discussão acontecendo simultaneamente, todos com caixas de som e volumes lá em cima, ninguém ouvia tudo, mas todo mundo se entendia, ou pelo menos não se importava. Como você no dia a dia que tem sua atenção dividida entre um texto que está lendo na web, a música no grooveshark e a conversa intermitente no skype. O barulho atordoante para um tiozinho de agora 36 anos como eu, nas 3 horas que ficamos ali.

Nesse conceito tudo ao mesmo tempo agora o  “palco” principal era separado unicamente por uma lona, então, mais uma vez, focar não era lá muito fácil. A primeira atração estavam os autores do fenômeno viral Leke, leke com a apresentação de um dos astros da web, Cid (Não Salvo). Óbvio que a profundidade nesse ambiente seria contraditória. Não houve. Aliás, é essa é a proposta sincera, descompromissada do site de Cid, como se sabe. Querente.
Na segunda, duas pesquisas traçavam o perfil do jovem brasileiro que acessa a internet. Para publicitários, aparentava ser o atração mais  enriquecedora do evento. Entre informações relevantes, o barulho de que vinha de fora e minhas postagens no facebook, um dado saltou aos olhos, principalmente ao observar o que estava ali ao redor no evento, mais do que propriamente na fala dos palestrantes presentes.   Jovem é jovem
Parece óbvio mas não é. Não importa a classe social, o jovem de hoje está online e busca estar cada vez mais presente, com a diferença única dos recursos que possui para esse acesso constante. Isso sempre foi assim. Os desejos básicos, os anseios mais pueris, as preocupações mais importantes, sempre foram  comuns a ricos e pobres, cristão, muçulmanos ou ateus, brasileiros ou americanos, e é claro, com o tempero diferenciador vindo de suas particularidades regionais, ideológicas e culturais. Algumas empresas perceberam isso e estão lucrando com a garotada ávida pela presença na rede. Ninguém está pronto para o que está acontecendo
Manifestações, Web celebridades, produção cultural unicamente via internet. Cada vez mais fica claro que empresas, políticos, jornalistas e sociedade civil em geral não estão prontos para o que a rede oferece ou pode causar e os lucros e efeitos que podem ser conseguidos com essa geração que já nasceu teclando. É claro que alguns são mais abertos e tentam pegar jacaré na onda sem saber onde é o tombo. Mas surfar mesmo ainda é para poucos, pouquíssimos. Participei de uma palestra há uns 10 meses em Campinas, na qual representantes de veículos minimizavam a importância das redes sociais enquanto possibilidade de retorno de mídia, anunciantes, produção de conteúdo relevante etc. Hoje vemos o fenômeno dos canais de humor no youtube, campeões em renda e atraindo anunciantes.
Assisti a dois programas Roda Viva (TV Cultura) um com o Rafinha Bastos (aqui) e outro com Marina Silva (aqui), ambos bem antes das manifestações aqui no Brasil, nos quais, entre suas questões particulares, ambos travavam uma pequena luta com os jornalistas afirmando a relevância do que já acontecia nas redes e o que poderia vir a ocorrer. Mas como diria Roberto Carlos “Todos estão surdos”. E tudo bem, isso é normal. Quando o mundo mudava com a molecada, politica, estética e moralmente nos anos sessenta ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo. Quando a rapazeada resolveu pegar guitarras nos anos 50 e acelerar o blues, também não. O que fazer com tudo isso? Isso dá dinheiro? Isso dá voto? Isso muda alguma coisa? São essas as perguntas que pipocam no cérebro de quem precisa de resultados no dia a dia.
Mais do que quem ganhará com tudo isso, como sempre na história do mundo, a provocação da juventude é exatamente a de não ser entendida de cara, ser chocante, propor mudanças sem saber quais são, agir pelo instinto, explodir coletivamente. E talvez só outra geração explique exatamente de onde vieram e pra onde foram os estilhaços. O mundo muda e nessa mudança, irônica e paradoxalmente, continua igual. Jovens gritam mudanças para os adultos responsáveis nada entenderem, e estes instintivamente rechaçarem o que vem para mexer no conforto do sofá da sala ou acabar com a certeza calmante de receber tudo do Jornal Nacional.
Buscar certezas nesse contexto é ignorar a história ou julgar-se o caolho entre os cegos. Nisso o evento You Pix foi mais do que querente: não quis dizer o que é o quê, apenas existiu, aconteceu, junto com quem está fazendo a mudança.

Ps. Ia falar das webcelebridades, mas acho que a coisa tinha que terminar por aqui. Quem sabe outro dia.

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