Fiz uma busca por aqui e descobri que nunca escrevi sobre crianças no oqéisso. Desenhos foram quatro (aqui), mas o mais próximo de escrever sobre o assunto, foi esse post sobre a nossa relação com os videogames. Aí apareceram todos aquelas fotos de crianças nos perfis. Aí eu comecei a olhar cada um. Aí eu li sobre como as pessoas são hoje. Aí vi notícias, aí pensei na situação de manifestações, de caos político, de ausência de opções para o ano que vem. Aí voltei meus olhos para as fotos da timeline novamente e pensei “como chegamos até aqui?”
Olhando para as crianças enxerguei a costumeira analogia do brilho. Você vê claramente uma luz diferente na criança. Os feixes vão se apagando e a claridade vai diminuindo enquanto passam os anos e chega-se ao ocaso do tempo. No velho há pouco desse brilho, a começar pelos olhos. É por essa razão que avôs e netos se dão tão bem, um se apresenta como receptáculo ideal de tudo oque o outro é.
Mas disso todo mundo sabe. É assim que se chega ao adulto de hoje. Aquilo que somos, sonhamos, sem idealização, apenas imaginando quando somos crianças, vai sumindo enquanto a inocência se esvai, enquanto desejos menos honestos, dignos, surgem. O filtro do mundo real tira o nosso brilho infantil. Antes que o texto pareça pessimista, digo, isso não é o fim. Como tudo que é cíclico, precisamos passar por essa perda de brilho, Toda fase é necessária, inclusive para prepararmos o mundo para aqueles que chegam brilhando todos os dias. Ainda que a gente não faça isso direito, ser criança pra sempre não é a solução - que o diga Peter Pan e Michael Jackson.
Que eram essas pessoas?
Quando me são apresentadas as versões beta desses adultos, me pergunto se realmente os conheço. Talvez esse seja um questionamento bobo, já que, segundo datachute, 73% das pessoas existentes em nossas redes sociais geralmente não são próximas a nós. Mas para mim isso ficou ainda mais evidente, mais chocante. Quem são elas? Quais pedras as calejaram, quais dificuldades as moldaram, quais alegrias as impulsionaram? Quem são essas crianças?. E a gente superestima a alegria dos outros e subestima o sofrimento. E a gente olha para os rostos como figurinhas e não como pessoas. Eis aí o poder da criança. Quando as fotos dos seus amigos então miúdos pulam a sua frente, o que se apresenta ali são pessoas novamente, não apenas perfis. São sonhos, são presentes dados por Deus a pais que talvez você nem conheça. São mundos incríveis travestidos de tranças, vestidos rodados, bicicletas de rodinhas e rostinhos sardentos. É o brilho da vida de volta. É o entendimento da razão de termos filhos hoje: não apenas por causa do ciclo da vida, mas pela necessidade dos tais raios de luz. Na verdade não somos nós adultos que mostramos a rota para a vida delas. São elas que no enchem com sua energia limpa e nos empurram a trilhar uma milha a mais no caminho, nos lembrando de quem fomos e que o mundo não acaba em nós e no que queremos ou pensamos.
O brilho. Naquele tempo é que era bom. Como chegamos até aqui?
Pensei nos amigos da minha timeline, olhei para os seus “eus” criança e imaginei por milésimos de segundo, que bonde na história teria os levado até os adultos que conheço hoje.
Na realidade, em nossa vida hoje nada privada, porém editada para redes sociais, sabe-se pouco de muita gente e muito apenas sobre aqueles seus 3 ou 4 amigos próximos e alguns familiares. É nesse ponto que repito a pergunta do título deste post: quem foram vocês,
crianças? Vocês foram o reator energético de alguém e hoje a força do seu brilho é que
pavimenta novos caminhos.
Mais uma vez agradeço a todos que enviaram fotos, e em especial para os 10 adultos selecionados que cederam seus belos brilhos para o oqéisso. São eles na ordem das fotos: Rita de Cássia, Igor Barrio Nuevo, Aninha Ruiz, Marco Redondo, Evelin Kelle, Junior Valler, Rubens Gualdieri, Juciney Pinheiro, Gisele Moura e Nego Lopito.
Valeu galera!
V
Muito bom! Muito significativo.
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