UM DESENHO POR SEMANA

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A minha espera e a escolha deles, ou dos pais.

Ontem postei aqui um desenho de uma menina numa sala de aula. Vai aí em seguida o que me motivou.

Há alguns anos, o meu grande amigo e hoje Pastor, Raphael Brandão me disse “Na vida tudo é escolha” das mais corriqueiras até as fundamentais, que mudam tudo. Um tempo depois usei e passei o mesmo conceito a outros amigos. Talvez um dia fale mais sobre isso aqui.

Mas hoje a escolha precoce é o que motiva estas linhas. Domingo presenciei a loucura de ver crianças competindo a partir de escolhas sobre o que farão de suas vidas pelos próximos três anos e que certamente influenciará no que farão também em um futuro mais distante. Em uma escola pública de Campinas centenas de adolescentes participavam de um vestibulinho para ingressar numa escola técnica. Química, bioquímica, técnico em meio ambiente e outros. Idade média 14 para 15 anos. Talvez você diga “não são crianças, são adolescentes!” . Com exceção de alguns mais velhos mesmo, eram todos crianças. E agora a partir da minha espera conto a minha impressão de alguns deles, que por coincidência eram em sua maioria meninas.

A dorminhoca
Fazia sua prova há mais ou menos uma hora. De repente deitou a cabeça sobre os braços e a mesa. Dez minutos, quinze, vinte. Comecei a ficar preocupado. Uns cinco minutos depois ela levantou animada. Foi a terceira a terminar a prova. Se foi no chute ou ela era algum tipo do gênio eu não sei. Só sei que no caderno de questões ficou a marca da baba.

A causa da minha espera parte 1
Foi ela que motivou o meu desenho. Logo antes da entrada em sala ao perceber que estava prestes fazer a prova, de repente teve os seu 5 minutos. Os pais estavam ali acompanhando-a. começou a pula e dizer “é agora é agora, ai, ai....”

A princesinha
Pela aparência devia ter não catorze, mas uns doze anos. Bem no estilo princesinha, roupas, canetas, cabelo. Parecia que ia sair dali para o castelo da cinderela. Só se fosse trabalhar como alquimista da princesa, estava prestando química.

A esquecida
Não levou documento, não podia entrar sem. Teve que ligar pra mãe trazer. Ficou na porta da sala ao lado. Faltando 5 minutos começou a chorar. Um choro silencioso. Uma professora do cursinho apareceu para acalmá-la. “ela vai trazer, vai chegar, repetia ela”. Com 11 segundos de atraso a mãe chegou. Ainda chorando, abraços, palavras para tranqüilizar, limpeza do rosto. Entrou e fez a prova.

A causa da minha espera parte 2
Começou a me perguntar quanto faltava para terminar o tempo restando 2 horas para acabar. Quando todos estavam passando a respostas para o gabarito ela ainda fazia contas. E foi assim até o final de 15 em 15 minutos. Para eu ir embora ela tinha que acabar. Ok, estava no direito dela, mas todo mundo já tinha ido. Mais alta que os demais, com a roupa do cursinho, e um cabelão enorme e meio embaraçado, de maneira infantil ela perguntava e não dava pra ficar com raiva. Foi aí que ao invés de reclamar decidi desenhá-la (viva meu bloquinho sempre em mãos).

Crianças escolhendo e sendo forçadas a crescer através do estudo. É a vida e seus degraus. Aos catorze anos eu escolhi prestar “processamento de dados” no famoso CUTUCA, escola técnica da Unicamp. Alguém me imagina fazendo isso? Graças a Deus que eu não passei, porque definitivamente eu não sabia o que estava fazendo.
E imagino que muitos deles também não saibam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Expresse-se aqui.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...