Tive que sair da ala de internação pra chamar meu sogro e telefonar pro Pastor. Chorei com o pai de minha esposa, liguei para familiares e amigos. Ao tentar voltar para sala de internação onde estava minha esposa e sua avó, o recepcionista me barrou. Muito educadamente perguntou se eu tinha cadastro, onde eu ia, se era visita ou acompanhante. Não sabia o que responder. Era visita? Não sabia, a final já havia umas três pessoas no quarto e o número de visitas geralmente é limitado.
Na dúvida soltei sem muito pudor:
- É o seguinte, a avó da minha esposa está meio que nas últimas, o celular não pega lá dentro, então eu saí somente pra ligar pra algumas pessoas. Então eu não sei...
- Você tá com seu RG aí? Por favor... – Respirei, procurei a carteira que nesses momentos se perde num buraco negro que se torna qualquer bolso e entreguei.
- Quem é a paciente mesmo?
- Aniberta Correia.
- Grau de parentesco.
-Ela é avó da minha esposa.
Ele olhou pro cadastro que fazia na tela do computador, como se não houvesse essa categoria “avó da esposa” e disse:
- Então ela é sua avó, amigo.
- É – disse eu – pode-se dizer que é.
Nesse momento foi como se eu entendesse algo. É claro que eu não sentia a mesma dor dos netos que desde sempre conviveram com ela. Logicamente eu não tive uma relação assim tão próxima. É claro também que não havia uma ligação de sangue com aquela mulher. Mas me lembrei do que é o casamento. Quando homem e mulher se casam passam a ser uma só carne. Ainda que tenham suas individualidades, eles são um. Não era apenas a avó da minha esposa que se preparava para partir do mundo material para o espiritual. No pensamento do que realmente é o casamento era a minha avó. Os olhos cheios de lágrimas de minha esposa, eram os meus olhos. E ainda que a dor não fosse a mesma, um pouco dela era a minha dor. A dor de ver parte de você sofrendo, perdida, sem rumo sem chão.
Foi então que me lembrei de uma das primeiras vezes que me encontrei com a Dona Aniberta, quando estava prestes a casar com sua neta. Ela me olhou e me disse:
- Olha, você pode me chamar de vó agora. Fica a vontade – até hoje não sei se foi uma ordem ou um jeito de me dar boas-vindas. Mas encarei como se fosse a segunda opção e nunca a chamei de vó.
O recepcionista me passou o papelzinho liberando a entrada e lá fui eu voltar para o quarto.
No caminho me lembrei do outro momento marcante com ela. No dia do casamento, no altar da igreja, recebendo os cumprimentos dos familiares e padrinhos ela disse:
- Cuida bem da minha neta, hein?Não faça ela infeliz.
Pode deixar vó, to cuidando e ela vai ser muito feliz.
Sem palavras...
ResponderExcluirSem palavras2...
ResponderExcluirJOAB BARROS