UM DESENHO POR SEMANA

terça-feira, 3 de abril de 2012

O edredom do Faustão


Estavam deitados um de costas para o outro. Combinaram de dormir preguiçosamente à tarde após um almoço de domingo daqueles. Voltaram para casa ávidos pelo acalento da cama desarrumada, eficientemente aprontada após horas bem dormidas da noite anterior.

Em todo o caminho de volta, a imagem do edredom retorcido surgia em suas mentes, e o desconforto do banco do carro ficava ainda mais incômodo. Ondas daquela preguiça gostosa vinham e atingiam cada vez mais forte, olhos, mente e músculos. O sol lá fora, as árvores, o vento e a estrada embalavam o sonho acordado do prazer simples de deitar, iminente realidade que se seguiria.

Quando chegaram, resolveram uma ou outra coisa da casa - um abrir de janela, o ligar da máquina de lavar, um gole de água, uma escovada de dentes - e logo as roupas ainda cheirando à comida feita em fogão de lenha, foram sendo substituídas por pijamas e camisetas largas e deliciosamente amarrotadas.

Nada precisou ser dito. O cenário ideal estava ali à espera deles e deveria ser aproveitado. Mergulharam apressadamente na confusão aconchegante da cama.    

Dormiram. Dormiram, dormiram por incríveis quinze minutos. E fingiram, fingiram, fingiram dormir, para si mesmos, por mais uns dez minutos. Fingiram um para o outro por adicionais sete minutos. Ainda deitados, viraram de frente esperando um bom momento para acordar o companheiro. Ela esperou um pouco menos que ele e depois de três minutos sussurrou fazendo menção de levantar:

- Não consigo mais dormir.
- Eu também to acordado...espera...quanto a gente dormiu?
- Que horas são?
- Quinze pras seis – ela respondeu olhando com os olhos apertados para o celular.          
- Isso quer dizer que dormimos...uns dezessete minutos?
- É, por aí.

Ficaram quietos durante um tempo como se tivessem perdido alguma coisa, ela sentada na cama, ele ainda deitado.

Não queriam se entregar e terminar o dia de descanso de uma maneira ordinária, sem aquele momento desejado. O sono não era um descanso para o corpo. Era um prolongamento de um descanso pra mente. O esticar de um momento relaxante aproveitado no merecido dia sabático do ocidente.

Sem mais sono ou alternativas, o silêncio foi quebrado e a situação resolvida com um convite especial:

- Deita aqui no meu ombro, vai – disse ele com a voz lenta – Com ou sem sono, pelo menos o domingo acaba aqui e não nos ombros do Faustão.

Um comentário:

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