UM DESENHO POR SEMANA

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Meu sentimento é confuso

Ontem, umas 15h30 da tarde desisti de ir à manifestação. Desisti por  ver o uso partidário, ou antipartido XYZ, a tentativa da personificação de um alvo para as manifestações. Começaram a dizer que “nós, não queríamos A e B” que não tolerávamos a pessoa. Esqueceram de todos os outros. Esqueceram de 40 anos de várias alternâncias entre “As” de “Bs, nas diferentes esferas do poder executivo. Esqueceram que é por isso que fomos pra rua. Por causa do jeito de fazer política e não do político determinado. Esqueceram que não estamos aí por causa do provável mal uso dos recursos para os estádios da copa, mas pelos, novamente, 40 anos de mal uso do dinheiro público seja em obras, seja em salários astronômicos e seus 14°s, seja em regalias. Personalizaram a minha insatisfação. Começaram até a usar comercialmente protestos legítimos. Estava desistindo, li um texto sobre a provável manipulação das passeatas em São Paulo. Identifiquei-me com a sensação mais uma vez. Aí vi posts relacionados às manifestações apoiando a ditadura (!). Desisti.
Foi então que umas 15h40 conversei com um amigo pelo facebook, depois de muitos desabafos descrentes, ele me disse: “acredito que se tem gente querendo desvirtuar, tem gente querendo fazer direito
o que nao da mais pra fazer, e acho que vc concorda, é ficar apático
acho que esse movimento do pais, é um estopim
como eu disse já ja as coisas se separam e vc escolhe pra que lado vc vai
e recomeça tudo outra vez.”

Decidi ir porque a minha responsabilidade era revindicar aquilo que creio ser certo para todos, não me omitir e por o pé na rua e a cara a tapa. Acredito que já tenho feito isso aqui em meus posts quando questiono inclusive o que todo mundo concorda, mas a agenda confusa da hora exigia presença física. Decidi ir.
Fiz e postei este cartaz no instagram, do qual falarei em breve:



Fui para manifestação com alguns colegas de trabalho. Lá me maravilhei com as milhares de pessoas presentes. Me emocionei com uma imagem na qual dava pra ver os dois lados da Avenida Moraes Sales tomados e eu no meio em uma espécie de vale onde a Barão de Jaguara cruza. Percebi que aquilo realmente acontecia e que era importante e podia ser realmente relevante para o futuro e sinceramente se foi surpresa para todos acontecer no Brasil, pra mim foi ainda mais acontecer em Campinas. Encontrei amigos, desencontrei de outros, fiquei feliz de ver gente que eu nunca imaginei que estaria ali. Observei alas mais claramente posicionadas, observei as faixas etárias, observei as diferenças e similaridades entre os manifestantes. Observei os oba-obas, observei até mesmo a falta de memória recente de alguns manifestantes. Gritei palavras de ordem que achei relevantes, fiquei em silêncio, caminhei junto. Não cheguei à prefeitura onde o tumulto aconteceu; fomos desviados por alguns manifestantes que tentavam controlar o fluxo de pessoas que chegavam e saíam da Irmã Serafina.
Vi outras cenas que me fizeram entender coisas que via no noticiário dos primeiros protestos em São Paulo. Dei graças a Deus por ter ido, visto, sentido, mesmo que de leve.
Voltei pra casa, vi os confrontos pela TV. Na adrenalina, minha mente não pensava, só assitia, enquanto postava uma ou outra foto na rede.

O meu cartaz de protesto
Dormi. No outro dia recebi a chuva de coisas no twitter e facebook. Números, manifestações de extrema direita, anti-esquerda, anti-partido, anti-Dilma, pró-FHC. Ouvi no rádio o anúncio de que o MPL estava fora de qualquer manifestação a partir de agora. Li, assisti, ouvi sobre uma teoria sobre a tentativa de deixar cada vez meno político o ato conjunto de 1 milhão de pessoas. Vi post pedindo para acabar com os partidos. “O quê?” Lembrei do meu post no instagram. Lembrei que o meu protesto poderia ser mal entendido, e eu poderia ter ajudado um discurso de golpe, um discurso totalitário. Me envergonhei por 3 segundos. Me assustei por umas 3 horas. fiquei irado por uns 10 minutos. Tinha dormido com uma sensação de orgulho do país e acordei com a sensação amarga de que tudo poderia ir para o brejo sem escalas e com a minha anuência.

Tinha prometido um post para hoje: o que eu escreveria? Decidi falar sobre a confusão. A confusão não é o que acontece na hora das pedras, das bombas de efeito moral e do spray de pimenta. A confusão acontece agora. Na minha mente que não quer levar a sua pro lugar errado. Que não quer ajudar a propagar discursos que há tempos abomino. A confusão de não conseguir pegar no meu lápis pra simplesmente desenhar alguma coisa para o um desenho por semana. A confusão de não saber direito onde estamos, apesar de ter a clara noção de que isso é incrivelmente importante. A confusão de ter certeza de muita coisa, mas não saber de nada. A confusão socrática de unicamente poder dizer que está confuso.

Por favor alguém me responda, oqéisso?






 

8 comentários:

  1. Cara, me identifiquei com boa parte do seu texto.

    Acho legítimo os protestos, independentemente dessa choramingação de muitos quanto ao vandalismo - infelizmente, aglomerações humanas geram algum vandalismo e confusão, mesmo que seja pra assistir à queima de fogos no Reveillon de Copacabana.

    Acho excelente o brasileiro se tornar mais politizado, levantar bandeiras.

    Mas acho importante a galera ficar ligada aos discursos oportunistas. Precisamos evitar que, ali adiante, meia dúzia de filhos da puta distorçam uma ação legítima e a transforme em combustível para um discurso totalitário [seja de direita ou de esquerda].

    Não fui pras ruas, mas tô tentando me manter de olhos e ouvidos abertos pra poder avisar os meus amigos que estão lá no caso deles começarem a se tornar massa de manobra.

    Fiquemos atentos e chamemos a atenção dos desatentos.

    E parabéns pelo texto, meu jovem. Cê tá mandando cada vez melhor.

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    1. É isso aí Lopito, fiquemos felizes, até orgulhosos, mas sempre atentos.
      Valeu pelo coment.

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  2. O que é isso tudo? não sei!
    Acredito, porém que confuso todos nós estamos.A única coisa clara para mim é que esse momento foi importante para ao menos despertar em nós o entendimento que unidos podemos mudar algumas coisas.
    Além do mais mesmo não sabendo como tudo iniciou, percebo o interesse das pessoas em saber o que está realmente acontecendo.
    O lance é ficar esperto, ler,conversar,discutir e acreditar que pelo menos conseguimos sair da inércia de anos e anos apenas reclamando e murmurando.Aliás, não é isso o que estamos fazendo aqui?! Belo espaço de interação e reflexão! Valeu!
    Jane

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    1. Exatamente, Jane.
      O que sabemos é que saímos um pouco da zona de conforto. Esse é um terreno desconhecido e nesse lugar há sim espaço para as dúvidas. É hora de encará-las uma a uma.

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  3. Belo texto. E digo para vc Jean que conversando com sindicalistas e assessores de politicos, todos estão perplexos, mas preocupados pela boataria sobre golpe etc e tal. Acredito que agora o ideal é sentar a poeira, vislumbrar o horizonte e as pessoas discutirem politica, trocarem ideias e pensarem no que realmente interessa: a discussao de uma reforma politica que tire o país da idade da pedra. Não é possivel um voto de um eleitor paulista valer oito vezes menos que um de Roraima na hora de eleger um deputado.
    Quanto a Dilma, apesar de considera-la decente e honesta ela vai pagar o preço: terá uma queda brutal nos indices de popularidade...Mas se souber entender o recado das ruas ela se recupera. Até porque Joaquim Barbosa ninguém merece...abs

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  4. Belo texto. Mas creia Jean. Todos estão confusos e perplexos. O que importa agora é esperar a poeira baixar e iniciar em casa, no trabalho em qq local uma mudança de postura. A politica nao pode ser criminalizada e sim compartilhada. Precisamos discutir política de modo natural, como parte do nosso dia a dia. Prioridade? Reforma política imediata com a colocação de uma proposta de reforma política. Quanto a Dilma, apesar de considerá-la honesta e decente ela vai pagar o preço: terá uma queda brutal de popularidade. Mas se entender o recado das ruas pode se recuperar. Até porque Joaquim Barbosa ninguém merece...Abs

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    1. Concordo,
      a mudança de pensar política e suas práticas, acontece no dia a dia. O nosso proceder, o nosso auto-questionar, a nossa mudança de mente é que nós fará produzir menos corrupção cotidiana e consequentemente diminuir a tolerância ela. E só assim ter mais critério e cuidado na hora de votar e um desejo maior de posteriormente fiscalizar de maneira mais prática quem elegemos.

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  5. Quem sabe a próxima geração terá a resposta. Confuso mesmo deve estar o operário do ABC que participou da greve de 1978 e hoje deve ter vergonha do partido, aquele Militar que acreditava em um ideal e hoje é perseguido, ou quem acreditou no sociólogo que privatizou. Apesar de tudo, muitos voltarão a vida de gado já no próximo ônibus. As grandes mudanças podem até começar nas ruas mas são decididas nos gabinetes. Ricardo

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