UM DESENHO POR SEMANA

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O supérfluo sofá da sala


Em meio a tantos sentimentos de indignação patrióticos e de patriotadas, hoje escrevo sobre uma frivolidade, média, capitalista e legítima.
Dia difícil no trabalho. Aquela decepção quando você não consegue realizar o que tinha planejado, ou atingir o objetivo do dia, ou ainda teve problemas mais sérios na labuta. É um sentimento de impotência, que geralmente acomete os homens, misturado a picos de stress. As mulheres geralmente ficam só nervosas mesmo. É aquele dia que você precisa de boas notícias, das mais simples. Seu time bem que podia ganhar, mesmo jogando feio. A TV a cabo poderia liberar uns canais e aquele filme que você queria ver, poderia estar lá, disponível. Você poderia só chegar em casa e ter aquela comida simples que você gosta de comer - macarrão, molho e parmesão ralado.  Você perdeu naquele dia e, mais do que nunca (droga, Faustão, por que você roubou essa expressão?) você precisa de uma vitória, ou projetar a vitória em alguém. Sem dramas sócio-político-existenciais, tudo o que você queria era um pouco de pão e circo e se possível, personalizados. Esse foi meu dia ontem.
Com a cabeça dolorida, pouco antes de sair do trabalho, recebi uma pueril, quase que vulgar, mas alvissareira notícia: depois de 37 dias sentados no chão da sala, havia chegado o sofá novo. Era disso que eu precisava, ou pelo menos isso. Uma notícia, que me trouxesse um pouco de conforto, literalmente. Polianicamente - acho que já usei esse terrivel neologismo por aqui - dirigi para casa com a esperança de ter o sentimento de Marty McFly quando no primeiro filme volta para o futuro e encontra a Pick Up Hilux dos seus sonhos na garagem, fruto das mudanças que fizera no passado de seus pais. Era isso. E nem precisa ser algo tão vultoso. Apenas chegar e ver um ambiente aconchegante já me faria feliz. Cheguei em casa. Com a chave na porta, esperei ver a sala pronta para mim, com algum estilo, bacaninha, sabe?. Sim, o sofá à frente da televisão, meu momento Homer.
Abri a porta e lá estava ele. Lá estava ele. Lá estava só ele. Ele, ele, ele: o sofá havia engolido a sala inteira. Era gigante, não dava para olhar outra coisa. Não tinha a quem culpar, eu estava lá na escolha. “O que eu vou fazer com esse trambolho?” Minha simples mas ideal sala aconchegante havia se tornado um ambiente apertado oprimido exatamente como meu dia. E daí? Qual a importância de um sofá? Nenhum! Nenhum. Era nessa hora que me sentia ainda mais derrotado, e mais, por um sofá! Minutos depois, no banho, pensei: “fome, guerra, doença, gente nas ruas e eu aqui reclamando de um problema no trabalho, de uma compra mal feita, de uma sala meio desarranjada. Que vergonha.” Sim, vergoha. É agora que este escritor deveria começar  um final fiosoficamente questionador, inspirador ou coisa que o valha. Nessa hora me redimiria de toda minha frivolidade, de minha mente mundana, quase neoliberal (urgh!). É, era para ser agora. Pena. Só me vem à cabeça o sofá.

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