UM DESENHO POR SEMANA

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Se for pra ser, que seja eu.



Sou conhecido entre amigos e familiares por esquecer as coisas. Aquele cara que já foi diagnosticado com déficit de atenção por metade das pessoas que conhece.

Vou até a cozinha beber água, entro, pego uma banana e deixo a água lá. Pego uma conta pra pagar on line, coloco o boleto junto com as coisas que vou usar no dia pra não esquecer e eis que de repente, lembro-me dela após cinco dias. Esquecer o que eu ia fazer ao entrar em um recinto, só acontece todos os dias.
Incluindo esta reflexão que começou quando alguém no trabalho numa semana dessas, disse algo sobre esse esquecimento e colocou outra luz sobre o fato. Pena que eu esqueci, e estou escrevendo com outro viés, sério (aliás, seríssimo).

Comecei a pensar em quando eu for velho. Se sou distraído e esquecido hoje, como vai ser quando, se Deus quiser, eu tiver uns setenta anos? Tive pena da minha amada Cyn.

Serei atração das festas de família. Meus netos comentarão minhas peripécias tais como caminhadas pelas ruas sem eira nem beira, táxis que pegarei sem saber o destino, trocas de nomes deles etc. Talvez em 2047 tenhamos dispositivos que auxiliem pessoas como eu. Se hoje o celular simplesinho na mão do idoso é uma solução para achá-lo a qualquer hora, talvez, rastreadores, chips, apps e outras invenções que  pipocam em nossas timelines a todo segundo hoje possam ser protótipos do que vai salvar a minha então enrugada pele e dar um refresco para os meus descendentes, facilitando-lhes a vida.

Talvez na avançada e sideral segunda metade da década de 40 do século XXI, haja uma memória virtual, ou um Evernote em minha mente e tudo o que quiser programarei na nuvem pra não esquecer. Terei lembretes que eu não vou perceber. Como se o tal do app soube-se que neurônio ativar para que a minha mente se lembre de não esquecer a hora de fazer alguma coisa. Talvez nesse dia eu não esqueça mais de nada, serei sempre certo daquilo que vou fazer, do que dizer, não terei brancos, não mais entrarei em qualquer recinto sem saber o motivo, ou esquecerei de pagar qualquer conta. Não mais acessarei uma aba e esquecerei de fechar a do lado, deixando o vídeo que havia começado a assistir largado até a hora de desligar o computador. Talvez.


Ou talvez e deixe isso tudo pra lá, seja um dinossauro que não se deixa programar e esqueça de tudo, até, talvez, de quem eu sou. Bem, se for pra esquecer quem se é, que seja natural e não pelo fato de uma memória externa me programar e me tornar outro, uma pessoa que sabe de tudo exatamente quando e como deve ser, com um processador ultrarrápido no lugar da mente. Que seja apenas eu, o esquecido, o distraído. Apps? Pode esquecer! Em 2047 se for pra ser, que seja eu e não o robô.  

6 comentários:

  1. Haha...
    Me vi um pouco aí também!
    Será que isso é genético ?!
    Jane

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  2. Como seu advogado de defesa (e meu também) defendo que pessoas assim deveriam ser usadas (como robôs) apenas para ações abstratas e imaginativas. Elas nunca deveriam se usadas para pagar boletos e administrar coisas concretas. Infelizmente temos que pagar as contas atrasadas, enquanto filosofamos e esquecemos tudo que é prático.

    Ass: seu esquecido amigo, direto do mundo da Lua.

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    Respostas
    1. rs, enquanto respondo seu comentário na outra aba está mais um boleto que eu tinha certeza que tinha pago,quando a Claro nem me mandou ele....Assim concordo plenamente com sua colocação, nobre colega. Que seja incluída na lei!

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  3. Sensacional !!!!!
    Sou eu. E quem disse que não quero ser eu?

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