UM DESENHO POR SEMANA

sábado, 13 de agosto de 2016

Por um dia dos pais mais Dollynho

Esse domingo é o chamado dia dos pais. E eu, no meu segundo ano, mas o primeiro com meu filho no colo, gostei da coisa. Até que comecei a ver os filmes comerciais para a data e não me senti homenageado em nenhuma delas. O pai na mensagem principal de diversas campanhas não tem lá muita importância. A importância está na inclusão de quem quiser ser pai, na mulher ou em alguma bandeira ideológica relevante x, y, z.  Na verdade essa necessidade de comunicar inclusão mostra para mim um buraco na prática inclusiva.

As marcas têm a necessidade de manifestar sua atenção às tendências e por essa razão, tomam para si o discurso que enxergam relevante para o seu público. Quando uma marca homenageia o padrasto, não necessariamente entende que ele deva ser homenageado. É, além de uma maneira de não ser paisagem em meio à quantidade de campanhas parecidas, se mostrar atual, ou mesmo à frente do seu tempo. O exemplo da campanha da Boticário é sintomática (abaixo).



Não disse aqui que o padrasto também não deva ser homenageado, que não haja os que dentre eles sejam muito melhores que alguns pais. Meu papo aqui é a sobre a ausência da simples homenagem, pois na soma com outras campanhas, vejo que a tendência é deixar o “pai comum”, em 2º plano.  Em três dos filmes mais compartilhados, a figura paterna não é celebrada. Em uma, ser padrasto é “ser mais que pai” (então o que seria ser pai?). Em outra, o filho se esforça para ser como o pai e no final a mãe mostra que o pai é um mero coadjuvante e que na verdade foi ela quem fez tudo. Em outra o foco não está na homenagem ao pai, mas na diversidade de tipos de pai. Todas campanhas de grandes marcas.

Mas, a gente não pode homenagear outras figuras paternas?
É claro que podemos e devemos. O estranho é não poder ou de repente ser a menor das importâncias a homenagem ao pai comum que não pertence a nenhuma outra categoria especial (avô na figura de pai, mãe, padrasto, pais homoafetivos etc).
Esse fenômeno vem ainda de outra questão. Alguns filósofos e pensadores já percebem que existe um clima de diminuição do papel masculino na sociedade. E aqui me coloco na frente da vidraça pronto para tomar pedradas. Hoje em dia, por conta de todo histórico do chauvinismo, de nossa cultura misógina e de tudo o que a mulher ainda sofre em pleno século 21 (salários menores, assédios, violência, baixo reconhecimento, jornada dupla) há quase que uma mal-estar em homenagear o homem, mesmo no dia dos pais. E esse sentimento em nada ajuda a mulher e não melhora as relações de igualdade de direito e respeito entre os gêneros. Essa distorção é comum. A diminuição do gênero como se fosse um pedido de desculpas pelo sofrimento que muitos membros do sexo masculino impõe às mulheres desde que o mundo é mundo. Com certeza as mulheres merecem mais que isso e os homens não merecem tanto descaso.

A coisa do pai entra aí por ser uma posição tradicional masculina que parece ferir a necessidade atual de inclusão de todo mundo em tudo. Uma forma de estabilishment que hoje soaria anacrônica.  Mas não deveria. Pais comuns continuarão nascendo todos os dias, junto com seus filhos. Pais bons e pais ruins.  Fico pensando se não precisamos ser mais simples, menos armados. Se precisamos dessa falsa inclusão midiática, na qual a palavra “pai” é tida como excludente.
Talvez precisemos de um mundo menos Boticário e mais Dollynho. Menos panfletário e mais homenagem de escola. Menos engajado e mais bobo.



Talvez precisemos de um mundo que se esvazie dos discursos, para começar agir com o amor simples de pais e filhos, irmãos e irmãs. Amor de humanos e não de classes, discursos ou tendências. Relações que de fato sejam igualitárias e que nelas realmente haja um entendimento do outro, seja ele quem for, em todas as suas diferenças. Afinal, somos sim todos diferentes e iguais ao mesmo tempo. Diminuir o outro não melhora a gente, só engana.
(leia mais sobre isso em "Viagem rumo a cara de ET")

Lanço então hoje o desafio para os próximos anos. Campanhas de dia dos pais que não sejam piegas, e sim criativas, que não precisem lançar mão de bandeiras, apenas o bom e velho amor paterno que eu sinto por meu filho há quase dois anos, desde que fiquei com ele a sós uma hora após seu nascimento, no quarto da maternidade. 

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