UM DESENHO POR SEMANA

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Roupas pra dobrar e um milagre de Natal.


Tudo aconteceu no meio de uma dobrada de calcinha.
Ele chegou do trabalho como todos os dias. Abriu a porta, virou e lá veio a mulher de sua vida recebê-lo com um beijo. Falando assim, parecia a imagem de uma sitcom americana dos anos 50. Não, ela não estava de avental e nem ficara preparando o jantar para o provedor que chegara cansado do trabalho. Não. Ela havia trabalhado ate às 18, chegou e ainda foi recolher roupa. É, a roupa ela recolhia, mas era ele quem dobrava as peças. Assim, depois do beijo receptivo, mochila no chão e parada direto no sofá. Cuecas, calcinhas e meias para dobrar. Vamos resolver logo.
- Você trouxe o note? perguntou ela
- Trouxe. Respondeu lacônico enquanto tirava o computador da bolsa e dava pra ela.

Enquanto ela ligava, ele dobrava peça após peça. Com o cansaço do dia dia na mente e nas palavras, ele contava pausadamente as agruras do trabalho enquanto ela acessava sabe-se lá o que na web.
- Nossa, acho que eu tô grávida…
No meio da dobrada que ele dava em uma calcinha.
- Hein?
- Lembra que eu fiz o exame de sangue?
- Sim.
- Então…
- Mas eu não sabia que você tava abrindo o site do laboratório.
- Ué? A gente não falou de manhã?
- Sim, mas você nem me chamou aí pro seu lado...fiquei sabendo  no meio de uma dobra de calcinha. Respondia suavemente, enquanto sorria assustado.
- Ai, desculpa, eu não achei que ia abrir direto no resultado, veio na minha cara.
- Me lembrarei para todo o sempre: naquela hora eu estava dobrando uma calcinha…

Riram. Riram nervosos, meio em choque.
Lembraram de todos os outros testes. Da solenidade para ver risquinhos nos de farmácia. Da cumplicidade de estarem os dois juntinhos lado a lado, da expectativa gostosa criada e todos os 8 meses de sorrisos de contentamento descontente do “não foi dessa vez”.

Lembraram de tudo isso e logo no dia do positivo, não foi ideal. Exatamente como a vida que nos dá as melhores coisas do jeito dela, e não com cara de seriado dos anos 60. Viram que na história deles era assim com tudo. Riram, viram graça. A graça das coisas lindas e verdadeiras. Como saberem-se futuros pais enquanto dobravam roupas de baixo. A graça dos milagres imaginados, mas não esperados. A graça de não ter o que dizer há um minuto e tudo para falar no outro. A graça de transformar um Natal igual a todos os outros, no melhor daquela casa. Como no original: com novidade, esperança e graça, que maravilhosa graça.

Feliz Natal.


9 comentários:

  1. De 0 a 10? Nota 11. Soberbo. Agora, a pergunta: realidade ou ficção? De qualquer forma, muito bom. Se for realidade, que bom. Se não for, bem que poderia ser...

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  2. Foi o melhor texto que você já escreveu!

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  3. Foi o melhor texto que você já escreveu!

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  4. Voltei. Não poderia deixar esse texto tão especial sem um comentário carinhoso. =)
    Que essa nova vida, seja o motivo dos sorrisos de vocês para a resto da vida.
    Amor, carinho, lucidez e muita consciência nessa nova fase! ;)

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    Respostas
    1. Valeu Aninha, pelas palavras e pela insistência! Demais mesmo.

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