Dois poemas de uma vez (e um desenho). Por que eles não são um só? Porque cada um é um.
Secos
Estamos todos secos.
Sem a harmonia das águas de março, sem umidade da novidade,
o orvalho da madrugada, o frescor da manhã desejada.
Estamos desidratados, sem verde, sem rosa, sem liláses, sem nada.
Estamos sem lágrimas, estamos exaustos.
Estamos descrentes, estamos serpentes, repletos do fel.
Seguimos, mochila nas costas, poeira de estrada.
olhamos pro horizonte desértico que não nos leva a nada.
Se há um poço, olhamos pro moço, com olhar dissimulado.
deve ser miragem, estéril como toda paisagem.
Ou é pingo d’água a ser pago a preço de galão.
Nossos sonhos são áridos, nossos desejos pálidos
que só ganham cor com o rubor da raiva incontida,
e hidratação com o transbordar do calíce da ira
outra visagem transformada em saída
A aridez não motiva, impede a vida
Estamos todos secos à espera da chuva
Estamos todos presos ao medo e à culpa
Sem acreditar em fontes, em nascentes de rios.
Nos restam as divinas gotas,
pois aos nossos olhos, nós somos as crenças mais rotas.
Hitratar
Dá-me tuas gotas
e o sentido de não haver
As tuas lágrimas e a experiência de as sorver
os teus risos e o poder contagiar
e inundar a sequidão
eliminar de vez o oco
preenchendo-o de coração.
Caraca Jean. Sensacional. Belas analogias.
ResponderExcluirCaraca Jean. Sensacional. Belas analogias.
ResponderExcluirValeu Cleyton.
ExcluirPra variar, eu adorei.
ResponderExcluirApesar de todo o caos da falta d`água, nenhuma vez pensei nele ao ler os poemas... Parabéns por isso!
Obrigado Aninha, mesmo.
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