UM DESENHO POR SEMANA

sexta-feira, 15 de maio de 2015

The King is gone, pela segunda vez.

Publiquei esse texto em um proto blog (que morreu após uma perda de senha) chamado oqéisso, em 2006.  
Na época B.B, King disse que não faria mais shows devido a sua saúde. Mas Lucille falou mais alto e ele continuou tocando por mais 8 anos. O texto é sobre essa despedida. Vale pra hoje.

Segundo "Blues Boy" King, sua música não é triste. Um contrassenso se pensarmos que é exatamente isso que significa o termo. Para ele o blues é a expressão de sentimentos e vivências, quer sejam felizes ou tristes. Na verdade um pouco tristonhos ficamos nós por saber que é a última vez de Lucille no Brasil. É, a Gibson ES-355 não mais terá as “poucas notas que valem por mil” como seu dono se refere ao próprio estilo, tocadas aqui. Mas não importa, é apenas um lamento de quem entrou no mundo do blues pela mão do rei. Na verdade foi pela mão do irmão. Explico.



Em casa, éramos três irmãos, e eu, o caçula, dez anos mais novo que os outros dois. Essa diferença fez-me ter a possibilidade de ser grandemente influenciado por escolhas, gostos e experiências deles. Os via, e ainda o faço, com aquela admiração de irmão mais novo que mesmo sem saber, quer chegar ao estágio dos mais velhos.

No caso da música meu irmão mais velho era o desbravador da casa. Vertentes múltiplas passaram pelos meus ouvidos através de sua experimentação. É bom frisar que ele não é músico, é um apreciador. Dos Fabfour passando por Lizt e Vivaldi e chegando a Frank Sinatra, acabei ouvindo de quase tudo na minha infância. Foi assim que conheci o senhor. B.B. King.

Mais precisamente através do disco “Live & Well” de 1969. Abre o disco uma simples e sonora apresentação: “Ladies & gentleman, the king of the blues, Mr. B. B. King”.
No entanto, posso dizer que na época estava mais interessado na capa do disco do que em seu conteúdo. Enquanto ouvia os riffs, tentava reproduzir a arte em grafite. Tinha lá meus 14 anos. Já me aventurava a pegar o violão, mas o máximo que conseguia era tocar “Pais e filhos”. Isso era o suficiente para ganhar a molecada toda, efeito só comparável a “More than Words” do Extreme com as meninas. Eu sei, eu sei, isso é irônico.

Ainda assim, digo que comecei a ouvir blues, se não foi pela porta da frente, pelo menos pela janela, afinal o que me fez ouvir B.B. King foi a influência fraterna e as feições do guitarrista tirando o melhor som e fazendo deste o próprio sentimento. Boas fontes, família e arte, seja esta última qual for.
Coloquei nome na minha Les Paul inspirado na história de Lucille. “Live & Well” foi o primeiro disco de blues que eu realmente ouvi.Não há dúvidas que o senhor King é uma daquelas lembranças primeiras sobre um determinado assunto. Por isso pra mim ele é o blues, que me desculpem Robert Johnson, Muddy Waters, Joe Lee Hooker e Steve Ray Vaughan.

Quanto ao meu irmão, hoje ele gosta muito de Renato Teixeira e Almir Sater.
Entre outras coisas, eu também.

Artigo escrito por Jean M.

Nota de 2015: 
Anos mais tarde fiz um desenho baseado na capa desse mesmo disco, veja aqui)

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