UM DESENHO POR SEMANA

quinta-feira, 19 de abril de 2007

(Does)Nothing else matters(?)

Ia publicar aqui ontem um artigo sobre música, sobre como um artista pode influenciar tantos outros e tal. Por motivos óbvios (vide a guitarra aí ao lado) gosto muito tema. Foi aí que fiquei incomodado em falar sobre isso, quando de novo passavam as imagens da chacina na universidade da Virgínia, EUA.
Questionei o quão desimportante seria o tal artigo, em vista do último ato de insanidade do momento. Questionei o quão vazio seria qualquer assunto que não abordasse o tema. Questionei a função de quem escreve, de quem compõe. Questionei a função de quem vive, ou de quem apenas sobrevive.

Enquanto pensava tudo isso, via nos telejornais da noite, cenas da violência urbana brasileira (não carioca, mas sim brasileira). Pensei em falar da cultura belicista e hipercompetitiva dos norte-americanos, ou reclamar da miséria de espírito da classe política brasileira. Nessa de falar o que todo mudo já sabe, vi que sim, poderia pensar em música. Pensei em canções apenas recheadas de lirismo, que fazem sonhar e acalmam, mas também pensei em outras, repletas de perguntas. Algumas que falavam só de flores e da beleza do amor, e outras que cantavam a raiva e agonia desse mundo. Canções com letra e sem sentido, composições sem texto, mas com imagens em cada movimento. Canções que falam de Vida, morte, guerra, paz, ódio, amor, verdade, mentira, bobagem, relevância, protesto, celebração, planos, desilusão, esperança, desespero, alma, corpo, erros e acertos. Canções que tenho cantado sobre o que realmente importa na vida e para que eu estou aqui. Lembrei do título de música do Skank, Uma canção é para isso, trabalho difícil é descrever para quê serve uma canção. Sei porquê eu canto, mas creio que cada canção tem uma história, mesmo aquelas que se inserem num mesmo estilo e ainda que do mesmo autor.
Lembrei de Chico Buarque, Bob Dylan, de Renato Russo, de Jhon Lennon. Lembrei de Renato Teixeira, de Bono Vox. Lembrei dos MC Léozinhos, Serginhos, Latinos, Britneys, Ximbinhas e Snoopy Dogs. Lembrei de Bach, Vivaldi, Mozart. Lembrei de Marcelo Camelo, Edgar Scandurra, Steve Wonder, Michael Stipes. Lembrei de Roberto e Erasmo. Lembrei de Cartola, Lenine, Arnaldo Antunes. Lembrei de Brian Wilson, de Herbert Vianna. Lembrei de tantos. Lembrei de mim, do Fábio, do Diogo, do Jônatas.
Independente de gostar ou concordar com todos eles, o que importa é perguntar: para que compuseram? Para que continuarão, aqueles que ainda podem, compor? O que é que muda? Por que eu escrevo? E por que você lê?

Em meio às balas, tudo pode parecer sem muito sentido. E na verdade é. Mas é exatamente aí que se faz necessário pensar, escrever, falar, compor, agir. O que você vê? O que você lê? Sobre o que você fala? Depois de uma autocrítica, percebo que é necessário desde o lirismo onírico, passando pela temática romântica, indo ao discurso sinceramente engajado, chegando à mais leve curtição. Desde que tudo isso não venha a aleijar teus sentidos, teus sentimentos e principalmente, tuas ações. Ou seja, falar daquilo que gera vida, que questiona que traz a luz.
Percebi que a pausa antes de publicar o texto, provava que, apesar do fato de escrever sobre influências musicais não mudar a vida de ninguém, me ajuda a pensar em como falar a todas essas pessoas sobre todo tipo de coisas. Inclusive as que doem como bala, ou as que acalentam como o balanço de uma rede.
Os jornais estão aí, as canções estão aí, os livros, os filmes os sites, os blogs, oqéisso está aí. Resta a todos nós, irmos muito além da parte que dizem ou que achamos que nos cabe desse latifúndio.


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