UM DESENHO POR SEMANA

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Quem é que sabe quando o mundo acaba?


Existem várias respostas possíveis para tão profunda indagação. Questionar até quando o terceiro planetinha do sistema solar vai durar, é o assunto quase onipresente em rodas de amigos, pausas para o café, happy hours, e-mails encaminhados. Os temas correlatos como o fim dos recursos hídricos e dos combustíveis fósseis, levam no fim das contas, até a pura e antiga discussão “é o fim do mundo?”. E é antiga mesmo. É só lembrar dos seus avós ou bisavós que diante de alguma novidade, seja ela uma mini-saia ou um homem com cabelo na cintura, diziam expressões como “barbaridade” e a clássica “meu Deus, é o fim do mundo”.
Aliás, a expressão “fim do mundo” toma novas direções de tempos em tempos. Por exemplo, quando algo ruim acontece, mas alguém tenta minimizar o ocorrido, diz-se “também não é o fim do mundo!”. Ou seja, é um problema particular seu que não vai interferir no mundo como o conhecemos. Os sentidos da expressão variam do coletivo para o individual, do individual para o coletivo.
Após duas viradas de milênio, centenas de guerras sangrentas, pestes, barbárie, iminência de catástrofes, bugs do milênio, mudanças de hegemonia econômica, espiritual, bélica, cultural, teimosamente a terra continua existindo, e o fim do mundo passou a ser então, por um tempo, sinônimo de desgraça não geral, mas individual. Sim, o fim do mundo passou a ser visto dentro do próprio umbigo. Talvez tenha sido sempre assim, mas ninguém dizia. O Armagedom acabou virando, um relacionamento terminado, a perda de um emprego, ou uma doença grave. Antropocentrismo ególatra na moda. O fim do mundo então, independia do medo de guerras nucleares, embargos econômicos, divisões políticas, desastres naturais, ou epidemias. O fim passava pelo “eu” e só.
Essas idas e vinda de sentido, de temor, frente ao tema apocalíptico, se tornaram freqüentes nas últimas décadas. Na de 90, O tema ecologia estava em voga, a preocupação com os recursos do planeta, a ECO 92 no Rio de Janeiro, a morte de Chico Mendes. Passou.
Reapareceu a partir da metade da década com a exploração hollywoodiana da iminente chegada do século XXI . Só se via isso nas telonas.
Independence Day, 1996 - o mundo quase acabava não fosse a liderança norte-americana (óbvio!) de uma força mundial contra alienígenas.
Armageddon, 1998,] - como no caso de uma das teorias da extinção dos dinossauros, um asteróide ameaça toda a vida existente em nosso planeta e é destruído por petroleiros norte-americanos (desculpe a informação redundante a respeito de nossos salvadores). Impacto Profundo, 1998 - Frodo, perdão, Elijah Wood descobre acidentalmente um cometa que como no filme anterior , vai atingir e destruir o planeta.
Fim dos dias, 1999 - o atual governador da Califórnia, engana o diabo e salva a humanidade de ficar nas mãos do capeta (mas já não está?).
Aqui estão os 5 mais, mas poderíamos citar Volcano e A guerra dos mundos, de 2005 , que Spielberg ia filmar na mesma época, dos outros, mas por causa de Independence day resolveu adiar por cerca de uma década devido a semelhança dos roteiros (ambos baseados na obra de H.G Wells). Mas enfim, o ano 2000 chegou, 2001 também e o mundo não acabou, os computadores não pararam e o tema esfriou.
O ano agora é 2007. Após passarmos por uma época o onde o fim dos tempos era individual, o mundo volta-se para a preocupação com a destruição do planeta sobre outra ótica. Não há alienígena, meteoro, ou cometa, mas apenas o homem, como causa do próprio desespero. Somam-se às mazelas pessoais, as coletivas. Integra-se à preocupação da alma, o que vai acontecer aos descendentes da atual geração. O que vai acontecer?
A responsabilidade emergencial com aquilo que usamos, gastamos, degradamos fica muito mais do que necessária, urgente, mas talvez não prioritária. O fim do mundo tem se aproximado há tempos, e há pelo menos 2007 anos somos avisados. Não por que acabamos com os combustíveis fósseis e a água. Mas pelos motivos que nos fizeram usá-los predatoriamente. É por isso que o mundo não acaba com meteoros, cometas e seres verdes e cabeçudos. Ele acaba conosco esbarrando um no outro, pisando no calo um do outro. Quando o mundo acaba com meteoros, ou com perda de emprego ou de um relacionamento, somos vítimas. Quando acaba porquê magoamos, ferimos algo, alguém, somos os carrascos. Destruir meteoros com uma bomba atômica é muito mais fácil do que fazer a humanidade amar. Que o diga Jesus Cristo. O mundo acaba sempre que não conseguimos praticar o tal do amor, que poucos realmente sabem o que é (talvez só Ele saiba).
Então, fica combinado. Não pergunte quando o mundo acabará. Apenas responda a pergunta: quando é que você salva o mundo do fim?
trilha sonora:
Its the end of the world as we know it (R.E.M)

Um comentário:

  1. Fantástico o seu texto Jean. Não podemos nos esquecer que o mundo está sempre acabando para as pessoas, não importa a situação que ele se encontra. Um prato vazio a esppera de comida, a dor de um enfermo, a perda de um filho para as drogas, esse será o eterno fim do mundo.

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