Era 1994. Eu tinha 17 anos, ele 29. Quando ele tinha cinco anos, o Brasil ganhava, no meio de uma ditadura militar, uma copa do mundo com um dos seus maiores times, no qual brilhava o maior de todos, Pelé. Quando eu tinha 5 anos o Brasil, começando a se movimentar para sair da tal ditadura, perdia uma copa do mundo, também com uma das melhores seleções de todos os tempos, na qual brilhavam Zico, Falcão e Sócrates. Nós dois precisávamos exorcizar a falta de boas memórias. Pois ele viu a vitória, mas provavelmente não lembrava, enquanto eu havia visto a derrota, mas ainda assim queria lembrar daquele esquadrão fantástico. Estávamos nós dois carentes de vitória, de bons resultados ou mesmo de bom futebol. Os dois últimos campeonatos, 86 e 90, não haviam sido justos conosco. Os bons tempos de democracia não estavam sendo igualmente felizes nos gramados. Futebol ruim, derrota para Argentina. Mas agora, era outra década, outra copa. Combinamos, ele lá e eu aqui, que alguém precisava fazer alguma coisa. Ele não disse nada, mas mesmo assim eu sabia que ele ia fazer.
E fez. Fez 1, 2, 3, 4, 5, fez 6. De cabeça no meio de uma zaga sueca, de bate pronto na frente do goleiro holandês. Até assisitiu Bebeto, seu parceiro de ataque, num gol salvador contra os norte-americanos. Na final quando ninguém mais queria bater o pênalti, sentado em cima da bola, chupando uma laranja, ele disse “eu bato”. Tinha que ser, afinal, nós havíamos combinado. Ele foi lá, bateu e fez.
O capitão era o hoje técnico da seleção brasileira. Foi um ótimo capitão. Mas não sei porquê, a lembrança de alguém segurando a taça, mais clara em minha cabeça e a do camisa 11. E aposto que muitos outros brasileiros também. Ele chorava enquanto beijava a “copa do mundo”. E o Brasil todo ria contente ao resgatar o lugar de direito da camisa amarela, no topo do mundo da bola.
Eu já não precisava mais sentir inveja de não ter visto a copa de 70. Ele já não precisava tentar se lembrar dela. Ele não precisava mais lamentar 82. Eu não precisava tentar buscar nas minhas reminiscências infantis o belo futebol da seleção de Telê. Eu agora tinha uma lembrança de vencer uma copa. Dava adeus ao orgulho de videotape, e tinha garantida para o meu futuro uma lembrança de ter visto um craque de verdade. E quanto a ele? Ele cumpriu o que me prometeu. E depois, além de outras coisas, completou o que prometeu a si mesmo, completou 1000 gols. Todos satisfeitos? Creio que sim.
É isso aí parceiro.
Sejamos justos: todos os campeões mundiais merecem aplausos. Agora, Romário não foi só campeão. Foi um herói. Porque marcar gol por um meio campo formado por Mauro Silva, Dunga, Mazinho e Zinho não é pra qq um. Belo texto Marcel. Valeu
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