UM DESENHO POR SEMANA

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Na contramão do sistema

Aposentada de 58 anos, 21de maio, queria fugir do pedágio.
Motorista (anônimo) queria fugir da polícia.
Kleber Rodrigo Plens, 24 de fevereiro bateu numa carreta, queria morrer, fugir da vida.
Os três tinham em comum o ir na contramão.

O que faz alguém ir na contramão?
É senso comum achar que andar na contramão é errado, perigoso e coisa de criminoso ou maluco, vide os exemplos acima. Mas esses casos podem nos levar a outras perguntas. Porque essas pessoas andavam na contramão? Todo aquele que anda na contramão está errado?

Os que andam na contramão geralmente estão inseridos em basicamente quatro tipos de pessoas:

1. os desesperados (comumente acometidos de insanidade),

2. os criminosos (à margem da sociedade, em certas ocasiões, acometidos de desespero),

3. e os visionários (historicamente vistos como insanos ou criminosos).

A contramão é um desafio, uma transgressão, uma provocação. É um desafio para o que encara a possibilidade de ir por onde quase ninguém vai. É uma transgressão para aquele que percebe, ou seja, está consciente de que está nadando contra a corrente. É uma provocação quando ainda que o sujeito esteja são, vai no antifluxo, a fim de estimular uma reação dos que ordenadamente andam.

Pessoas que vão na contramão descobrem coisas, inventam, criam. Encontram cura pra doenças, inspiram outras pessoas, se expressam de maneira livre. Gente assim, garante diversidade num mundo igual. Produzem arte, sensibilidade, novidade e riso. Preservam a liberdade - que não é o contrário de prisão, que fique bem claro. O problema é que gente que vai na contramão coloca todos os outros em situações de perigo. Perigo de se sentir desconfortável, e perigo real mesmo, de vida. Quem anda na contra mão pode trazer sérios danos a ordem social vigente, seja ela, no trânsito, na segurança pública, ou nos usos e costumes das pessoas.

Assim parece tudo muito bonito, e nem sempre é.
Ir na contramão, pode dar uma dor de cabeça danada. Seja por demandar um grande esforço, seja por enfrentar poderes instituídos, ser preso ou por acertar o crânio no pára-brisa, depois de bater o carro. Realmente a contramão é um perigo. A decisão de encará-la, dá ao agente da ação, um poder quase ilimitado. E como qualquer poder, se bem utilizado, ótimo, mas se mal...Quando se vai na contramão, de qualquer área, setor, contexto, já de início nega-se as leis, regras a que todos os outros estão sujeitos e muitas vezes pelas quais estão presos. Essa tal liberdade total pode levar a completa falta de noção do que se faz, como nos três casos citados acima.

Mas também pode dar a autorização de perguntar “por quê?”. E isso, no final das contas, ou no início delas, é o que fazemos quando somos crianças. Somos livres para perguntar qualquer coisa. E todo mundo acha engraçado, pelo menos até a hora que a paciência acaba e sai o bom e velho “porquê sim !” Nessa época vamos para onde queremos, ou pelo menos temos essa atitude, somos limitados apenas pelos cuidados dos pais. Pintamos o macaco de verde e o sol de azul. Ou seja, não é a questão de certo e errado. Também não é ser “do contra”, ou seja, nadar contra corrente só pra exercitar. Isso é de outra fase, que começa lá pelos 14, 15 anos.

O que fazemos, então? Seguimos cegamente o fluxo? Ou viramos revolucionários e vamos na contramão de qualquer coisa? De repente há tempo para tudo, para ir contra a multidão, ou fazer coro com ela. Dependendo do quê, onde, quando e como. Mas certamente, sempre há (talvez não na Imigrantes, ou na Castello Branco).

Finalmente, fica a pergunta: hoje é dia de ir para que lado?

Ah, para os que contaram apenas três grupos dos que andam na contramão, no inicio do texto, o quarto é o grupo dos barbeiros...

3 comentários:

  1. Lindo, brilhante, bravo.
    Como ninguém te descobriu ainda?
    Bom, menos mal, pois pelo menos ficamos com nosso veríssimosaramagomachado particular.
    É muito bom ler algo que definitavamente faz alguma diferença.
    E você faz meu caro.
    Meus sinceros parabéns.
    Cleyton

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  2. Reply ao Keko Honorato:
    "Como ninguém te descobriu ainda?"
    N'os descobrimos este ser, e fomos descobertos tb, mas por n'os mesmos.

    caramba, que confusao de ideias, oqehisso meu caro?

    efeitos psicotropicos natuais do oxigenio da america do norte!

    belas palavras! como sempre.
    (desculpa a falta de acentos, teclados canadenses sao assim meio temperamentais mesmo)
    Junior

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  3. Muito bom Jean Marcel!
    tenho me sentido assim muitas vezes, em algumas é bem gostoso, em outras perco as referências e sinto medo, mas...

    abração velho amigo!

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