UM DESENHO POR SEMANA

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

A mais imperfeita tradução

Flickr. Clipe de casamento. Porta retrato. Álbum de família empoeirado em cima do guarda-roupa.Todos portam imagens que revelam (perdoe-me pelo trocadilho) informações sobre épocas, pessoas, lugares e momentos, por algum motivo julgados relevantes no instante em que foram capturados. Não importando se são aquelas envelhecidas do começo do século passado, ou imagens compostas por megapixels tiradas de celulares. Diferenças, semelhanças e evolução no fazer fotográfico do usuário comum que apenas deseja guardar momentos. E uma coisa de uns tempos para cá fica mais e mais clara à medida que todos podemos colocar nossas fotos à disposição da curiosidade de qualquer um: todo mundo é feliz nas fotografias.

Sim, qualquer um pode ver. Principalmente hoje, em que as fotos não queimam.
Seu dedo apareceu na imagem? Simples, é só tirar outra. Olhos fechados, outra. Sorriso amarelo, outra. Quase sem limites de quantidade, dependendo do seu chip, ou cartão de memória, ninguém mais tem maiores pudores. Ficou mais ou menos, tira outra. E nem é necessário apagar na hora. Depois é só escolher a melhor das 37 que você tirou da mesma coisa. E se alguém na foto não ficou legal, para isso existe o Photoshop, tira ele de lá. Isso faz com que nossos álbuns fiquem cada vez mais alegres, felizes e perfeitos. Uma perfeição às vezes mentirosa.

Quando olhamos álbuns virtuais, ou fotos em sites de relacionamento, achamos que não existe tristeza no mundo. Não vemos dificuldades, sofrimentos. Certo, ninguém vai querer fazer um álbum de “como eu era infeliz nessa época” ou também “como sou triste hoje”. Bem, pelo menos, quase ninguém. Mas as fotos caseiras revelam o que achamos que queremos ser, ter ou sentir. Achamos, porquê na verdade ninguém deseja ficar com, por exemplo, aqueles três marmanjos num camping para sempre, ou vivendo eternamente na casa de parentes ou ainda na escola. Não desejamos perpetuar nada. Apenas provar que lá estivemos não para os outros, mas para a nossa própria incredulidade. Esse “lá” pode ser um lugar, um grupo de pessoas, uma situação, uma conquista. Uma boa e simples lembrança daquilo que não se pode guardar na memória. E para que esforçar nossa limitada cabecinha, se temos 2, 4, 8 Gigabytes disponíveis ao alcance das mãos?

A facilidade de obter fotos em quantidade, limita a relevância das mesmas. Qualquer coisa é motivo para capturar a imagem mas nem tudo realmente lembra alguma coisa que importe.

Trocando em miúdos, dos lambe-lambes ao celular, nosso fascínio por apreender o instante numa imagem, continua de maneira diferente mas ainda assim com uma coisa em comum, a necessidade de sublimar a tristeza, dor ou mágoa, num sorriso, abraço ou pose . Ninguém vê o que está por traz da alegria aparente.
E quem é que quer fazer isso? Ah, desconforto, teu nome é sinceridade.

Anteriormente falei sobre a perfeição das fotos, que ás vezes parece mentirosa. Tudo aquilo que parece perfeito raramente o é, seja uma foto ou a pessoa que a tira. E no caso, como há ser humano no meio, certamente não há perfeição.
Há tempo para sorrir e para chorar. Não importa a pose da foto.
Pelo sim, pelo não, diga “xiiiiiss”

idéia original: Júnior Valler

texto: Jean M.

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