UM DESENHO POR SEMANA

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A copa, o povo e o direito aos paranauê


Outro dia percebi que uma nova gíria invade o meu mundo. Sim, o meu, porque eu não sei se você que lê já ouviu a expressão “paranauê”. Se já ouviu estamos juntos, se já usou, me perdoe por esse momento “o que essa juventude está falando” que tive agora nos meus tenros 36 anos de idade.

Antes um canto de capoeira, o ritmo para a luta, paranauê, segundo os usos feitos próximos a mim, pode ter diversos significados. Você pode usar como “coisa”. “Pega lá os paranauê pra fazer a pizza”. Pode usar como preferência: “cada um com os seus paranauê”. Pode substituir por particularidades, características, ou macetes: “você sabe os paranauê de funcionamento do chrome?” E a mais usada, (veja aqui as origens da palavra e do meme) a de ressaltar que alguém sabe muito fazer algo "esse cara manja dos paranauê"

Isto posto, usarei a gíria do momento  nesse texto. Veja se você consegue identificar cada paranauê, digo, cada tipo de uso.

A copa vai acontecer. Manifestações vão acontecer. Li textos falando do atraso das manifestações. Que a copa não começa daqui a 4 meses, mas já começou há quase 7 anos, quando do anúncio. Assim como o governo federal, e também os governos estaduais e municipais demoraram a resolver questões de estádios, mobilidade urbana, aeroportos etc, o povo demorou a reclamar seus paranauês. Concordo, mesmo, sério, de verdade. Mas a demora não tira o direito de reclamar. Assim como eleger alguém não tira o direito de cobrar esse mesmo alguém. Há um movimento pelas não manifestações durante o campeonato, ou pela desvalorização das ações. Tá, não é bem um movimento, mas uma tendência.

Pensando na relevância dessa atitude tardia, há outro paranauê em questão, a idade dos manifestantes. Se a maioria tiver entre 20 a 28 anos é um contingente formado por pessoas que na época do anúncio da copa, tinha entre 14 e 22 anos, ou seja, a maioria nem adulta era e dessa forma é natural que a revolta chegue agora, motivada também pela primeira saída do sofá ocorrida nas manifestações de junho do ano passado.


Há porém um terceiro lado que une quem critica e quem apoia a manifestação tardia. O aproveitamento político da copa para a situação e das manifestações para a oposição. Estamos todos com as armas nas mãos para condenar qualquer que seja o uso de um e de outro. Como escrevi uma vez, a confusão continua. Direita, esquerda, ideologias defendidas e atacadas, experimentadas, utópicas e desesperançadas, frias e individualistas, coletivas e surreais. Nas redes, uma discussão por hora. Todo mundo é vilão e paladino e quem acha isso é alienado, ou está em cima do muro. Desde junho parece que percebemos que moramos em um país de atrasados. Tudo é muito para mudarmos em tão pouco tempo, Tudo é muito absurdo para questionarmos de maneira querente, isenta, sem defender o paranauê de cada um na hora da discussão. Tudo é muito vergonhoso para o povo ver tudo calado. Atrasados como as obras da copa. Atrasados como a dicotomia esquerda-direita num país rico de miseráveis. 


Nessa de discutir os paranauê ideológicos, já tem até quem não queira que a seleção Brasileira ganhe a copa. Dentro da profundidade abissal dos interesses lindamente desprendidos de cada um, segue fora de foco o desinteresse travestido de preocupação com os paranauê das pessoas, aquelas, cada uma e todas elas, que longe das ideologias, das desculpas, das diferenças, das indiferenças ou alheios a todos os bla bla blas e mimimis querem mesmo é ver quem é quem tem, no final das contas, mais paranauê pra mostrar dentro e fora das quatro linhas.


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