Ontem descobri o porquê na era dos tablets e smartphones ainda uso o bloquinho. Não, não é pelo charme. É por uma questão de história, ou melhor da minha história. É pelo registro duro, pela lembrança contada, mas também física, densa, palpável. Eles, os bloquinhos, me são tão caros como o são relíquias, do fundo do baú mesmo. Se há aqui algum tom nostálgico, desejando o poético, não é proposital (percebo isto enquanto escrevo).
O bloco conta uma história, às vezes desfragmentada, é verdade. Um pouco do seu sentimento dali, de uma anotação daqui, uma lista de compra, um rabisco despreocupado. Mas no final, cada folha relata os fatos ou sensações daquele momento, e no todo é possível montar o esqueleto do dinossauro ali impresso. De uma capa a outra estão dicas, pegadas, indícios de uma época, tenha ela ocorrido há dez anos, dois ou um mês. Essa é a diferença para um diário, no qual o registro é proposital. No bloquinho, o registro acontece, assim, meio impressionista.
Escrevo esse texto num deles, não por nada. A ideia me veio em uma padaria, à espera de um amigo. Estou aqui na companhia dele, o bloquinho, no clima do caderno do Toquinho esquecido no fundo da mochila. Abri-o. Na busca de folhas brancas, acabei vendo os primeiros registros do planejamento do Purê ali. A decisão de tornar um projeto em algo real, fundamentar suas bases, estipular passos, criar nome, traduzir o conceito em palavra, ícone etc. Decidi continuar a ver o que mais tinha ali.
Outras folhas lembraram-me de outras viagens, particularmente uma de verdade, feita no início de 2013. Detalhes e impressões anotadas em forma de poemas, desenhos ou frases soltas. Sorri, pois algumas delas talvez eu perdesse não fosse o bloquinho. As centenas de fotos e videos não conseguiram registrar o que minha mente percebeu através de cada sentido. Os rabiscos durante os trajetos foram mais próximos que os cliques apressados de turista deslumbrado com cada atração sonhada e agora vivida.
No mesmo bloquinho pude ver a evolução do meu sobrinho de sete anos, pois, desde que ele conseguiu pegar em uma caneta vem escrevendo e ilustrando lindamente em meus cadernos. Vi os registros de contos, dos mal passados aos crus. Vi planos feitos e falhos, rascunhos que não foram pra frente, rabiscos que deram errado no primeiro toque do lápis no papel. Vi até momentos sem pretensão, jogos para a diversão pura e simples, listas de natal, de compras.
Nesse exemplar em particular, vi que os tais bloquinhos que chamam por aí de moleskine, não são sacros, profissionais, bacanudos ou intelectuais. São apenas cadernos de anotações e, independente de capas estilo escolar, de couro, vintage, ilustradas por designers ou fabricadas por talentosos artesãos, todos tem o mesmo fim: ser completamente rabiscado, sem dó, com aquilo que você tem na cabeça, nos olhos e nas mãos. Afinal são só bloquinhos. Vai saber a razão de eu gostar tanto deles.
ps. Esse da foto foi feito pela Regina
ps. Esse da foto foi feito pela Regina
ps2. O texto foi gestado no bloquinho há uns 7 meses, redigido na nuvem há uns três ou quatro e postado só agora. Se ele tem registros mais de 2013 do que de 2014, essa demora em postar é, em certa medida um registro do ano corrente.
ps3. Da mesma forma, no post original não há menção ao meu filho, hoje com 3 meses. Ele não está no bloquinho, senão pela percepção louca de realizar muitas coisas antes de seu nascimento. Assim, esse é um bloquinho pré-Pedro.
ps3. Da mesma forma, no post original não há menção ao meu filho, hoje com 3 meses. Ele não está no bloquinho, senão pela percepção louca de realizar muitas coisas antes de seu nascimento. Assim, esse é um bloquinho pré-Pedro.
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