Poderia contar muitos fatos sobre minha relação com a obra do senhor Bolaños, fazer uma análise da inocência ou não das piadas, do impacto latino da sua obra ou ainda uma tese socio-política sobre o seriado, mas, não, ficarei com um caso bem pitoresco, que mostra a relevância de sua obra em minha vida.
Eu tinha 14 anos. Nesse início de querer ver o que o mundo tinha para oferecer sem os olhos da mãe no cangote, minha fronteira máxima era o shopping. Creio que ainda é assim para muitos garotos de hoje. Passava as tardes de sexta com um ou dois amigos dando voltas infinitas pelos corredores do centro de compras sem enxergar loja alguma, mas com olhos atentos nas meninas. Essa era a rotina. Rodar, rodar e rodar, olhar, ir atrás, seguir e, e, e...nada fazer. Todas as sextas, ação igual com resultado idem. Nessas aventuras complexas como uma gaiola de hamster, vez ou outra gastávamos nosso dinheirinho doado pela mãe, com fichas de fliperama, jogando Moonwalker, Cadilac Dinossauro, Golden Axe, Double Dragon, Street Fighter entre outros clássicos arcade. Se comíamos? Tinha uma bebida de leite de soja com sabor de morango, precursor dos Ades da vida, então novidade por aqui, alfajor de uma loja de produtos naturais que eu não me lembro o nome e, pra balancear, um pouco da fritura dos risoles de Catupiry no quiosque das lojas americanas. Cada um gastava o que podia. Uns tinham mais fichas e comiam, outros ou jogavam ou comiam.
Sexta após sexta, sempre igual. Raros eram os dias em que íamos já combinados com alguém do sexo oposto. Mas aconteceu. E é desse dia que se trata esse texto.
O horário acertado com os devidos responsáveis para irmos embora era às 18h30. Mas, naquela sexta, elas estavam lá: as meninas. Íamos sair do esquema rodar, fliperama, rodar, risoles, rodar, ir embora. Não tínhamos combinado, mas elas quiseram ir ao cinema. Sem querer querendo, falamos “claro, vamos lá!”. A questão é que a sessão começava às 17h30 e não, no Cine Serrador não passava curtas.
O horário acertado com os devidos responsáveis para irmos embora era às 18h30. Mas, naquela sexta, elas estavam lá: as meninas. Íamos sair do esquema rodar, fliperama, rodar, risoles, rodar, ir embora. Não tínhamos combinado, mas elas quiseram ir ao cinema. Sem querer querendo, falamos “claro, vamos lá!”. A questão é que a sessão começava às 17h30 e não, no Cine Serrador não passava curtas.
Percebemos no meio da sessão (“duh”) que nosso horário expiraria bem na metade do filme. Nós não poderíamos sair naquele momento, não na frente das meninas. Sem um olhar para o outro concordamos silenciosamente em ficar, sem pensar muito nas consequências. Aí rimos, vimos partes do filme, fizemos piadas, não deixamos os outros assistirem. Como qualquer adolescente que ainda está mais pra criança do que pra adulto faz, sendo ridículo achando que está abafando.
O resultado disso? Primeiro: ninguém ficou com ninguém. Segundo: mães desesperadas com o atraso de mais de uma hora e meia, mudança brusca na rotina de todas as sextas-feiras. Terceiro: tal desrespeito merecia punição. Mas, o que fazer com esses moleques classe média que não metiam medo em ninguém e cometiam sua primeira infração? A pena dos outros eu não sei, mas a minha foi severa. Um interminável mês sem assistir Chaves após o colégio. De cara pensei estar no lucro. Achei que a repreensão ia ser bem pior. Mas hoje confesso, aquele mês pra mim foi Interminável, muito mais que os infinitos 14 sem pagar aluguel. É, mãe sempre sabe o que faz. Não tinha outro castigo, tinha que ser o Chaves.
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