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quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Dia dos Pais - O frio na barriga de um pai bebê

Minha esposa me perguntou o que eu queria fazer no meu primeiro dia dos pais.
Na hora me deu um branco, travamento do Windows clássico. Fora obviamente estar com meu filho, nada vinha a minha cabeça. Posso fazer o que os pais fazem, mas o que eles fazem no dia dos pais, principalmente com um bebê de 11 meses? Ir a um restaurante no almoço? Passear no parque? Ficar em casa com a família? Não sei. Assim como não sei mais um monte de detalhes a respeito da paternidade.

É de conhecimento geral que, enquanto mães, impostas por sua biologia e sugeridas por seu sexto sentido, nascem sabendo o que devem fazer, mesmo quando acham que não sabem, pais não tem a mesma sorte. Todo pai incipiente é um bebê-pai junto com seu filho. Para o pai – pelo menos os sinceros – criar /educar é um mistério que vai se revelando dia a dia, exatamente como a vida é para o bebê. Por isso a relação pai e filho é um aprendizado mútuo, cada um na sua persona.

Nesse momento de percepção da própria ignorância, instintivamente os homens fazem o que qualquer um faria, apelam para os seus exemplos ou a ideia que possuem do que é ser pai. Imitam padrões ou simplesmente repetem a educação a que foram expostos. Nada mais natural. 

É nesse ponto que me encontro comigo mesmo na vantagem de estar no que chamo de paternidade pura, quase virgem. Nascido numa família exemplo da mudança ocorrida nos anos 80, com o aumento crescente de casamentos desfeitos, cresci com uma relação paterna mais distante que as recomendáveis por igrejas, psicólogos e comerciais de empreendimentos imobiliários. Mas é claro, ainda tenho o inconsciente coletivo, os livros, os filmes, os mentores da adolescência, os professores da escola e os bons amigos um pouco ou muito à frente na jornada. Esse estado me permite assumir minha paternidade trôpega, com o objetivo de aprender realmente a andar e não me enganar com os andadores dos modelos que existem.

A paternidade, no fim das contas, é uma criança que enfrenta e se maravilha com o desafio do momento: se expressar, dizer o que quer, o que precisa. Calcular a que distância ficar, quando é bom estar perto, quase grudado e quando deve-se dar espaço pra não bater a cabeça. Começar com o alimento líquido, sentir nascer o dente e passar a comer alimento sólido. Se esforçar pra engatinhar, estar seguro pra ficar em pé e enfim andar. Outros desafios aparecem, mas os primeiros anos dão as pistas pro futuro.

É por isso que me sinto feliz e com um frio na barriga por esse domingo que se aproxima. Porque, ainda que eu não escale o Aconcágua ou faça um mochilão pela Tailândia, desde aquele dia em que fiquei com o Pedro sozinho no quarto da Maternidade de Campinas, tudo em minha vida é e será uma aventura. Um não saber, um experimentar pra depois perceber e aplicar na próxima viagem. E o melhor, com amor carimbado em todas as folhas do passaporte.  

  

8 comentários:

  1. Muito bom Jean!! Parabéns pelo texto!
    A paternidade, para qualquer pai que deseja ser um, é um tremendo desafio de mão na massa e descobertas de desenvolvimento de um pequeno ser que nos transforma a cada dia! Cansa, mas recompensa! E muito!
    Vamos aproveitar pois passa muito rápido!

    Grande abraço!

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    1. Obrigado Nelson. Exatamente, a paternidade é crescimento, e a descoberta de desenvolvimento dele e nossa. A gente se desenvolve junto. Valeu!

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  2. Que lindo!
    Emocionante! Tanto que nem sei me expressar em melhores palavras...
    Feliz Dia dos Pais!

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    1. Poxa, que bacana Aninha! Pra mim o seu eleogio está mais que perfeito. Obrigado por sempre aparecer por aqui.

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  3. Incrível ver o ponto de vista de um pai em seu primeiro dia dos pais. Achei interessante q realmente uma mae mesmo q de primeira viagem parece saber o q fazer. Foi muito bom ver este outro lado.

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    1. Que legal, Vania. Exatamente, por isso que é tão importante a criança ter os dois. O pai é a primeira relação de fora que tem que ser construída. Bacana sua percepção.

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