Estavam deitados um de costas para o outro. Combinaram de
dormir preguiçosamente à tarde após um almoço de domingo daqueles. Voltaram
para casa ávidos pelo acalento da cama desarrumada, eficientemente aprontada
após horas bem dormidas da noite anterior.
Em todo o caminho de volta, a imagem do edredom retorcido
surgia em suas mentes, e o desconforto do banco do carro ficava ainda mais incômodo.
Ondas daquela preguiça gostosa vinham e atingiam cada vez mais forte, olhos,
mente e músculos. O sol lá fora, as árvores, o vento e a estrada embalavam o
sonho acordado do prazer simples de deitar, iminente realidade que se seguiria.
Quando chegaram, resolveram uma ou outra coisa da casa - um
abrir de janela, o ligar da máquina de lavar, um gole de água, uma escovada de
dentes - e logo as roupas ainda cheirando à comida feita em fogão de lenha,
foram sendo substituídas por pijamas e camisetas largas e deliciosamente
amarrotadas.
Nada precisou ser dito. O cenário ideal estava ali à espera
deles e deveria ser aproveitado. Mergulharam apressadamente na confusão
aconchegante da cama.
Dormiram. Dormiram, dormiram por incríveis quinze minutos. E
fingiram, fingiram, fingiram dormir, para si mesmos, por mais uns dez minutos. Fingiram
um para o outro por adicionais sete minutos. Ainda deitados, viraram de frente
esperando um bom momento para acordar o companheiro. Ela esperou um pouco menos
que ele e depois de três minutos sussurrou fazendo menção de levantar:
- Não consigo mais dormir.
- Eu também to acordado...espera...quanto a gente dormiu?
- Que horas são?
- Quinze pras seis – ela respondeu olhando com os olhos
apertados para o celular.
- Isso quer dizer que dormimos...uns dezessete minutos?
- É, por aí.
Ficaram quietos durante um tempo como se tivessem perdido
alguma coisa, ela sentada na cama, ele ainda deitado.
Não queriam se entregar e terminar o dia de descanso de uma
maneira ordinária, sem aquele momento desejado. O sono não era um descanso para
o corpo. Era um prolongamento de um descanso pra mente. O esticar de um momento
relaxante aproveitado no merecido dia sabático do ocidente.
Sem mais sono ou alternativas, o silêncio foi quebrado e a situação resolvida com um convite especial:
- Deita aqui no meu ombro, vai – disse ele com a voz lenta – Com ou sem sono, pelo menos o domingo acaba aqui e não nos ombros do Faustão.
Domingo é meio assim mesmo...
ResponderExcluirMuito bom!! Jane