O que se espera de líderes em momentos de crise? Que sejam
austeros, se posicionem buscando a unidade e sentimento de nação, que mostre
preocupação com o momento pelo qual o país passa, certo? E o que se espera de
um povo? Que não se acomode, se manifeste, pense no bem comum, seja cidadão.
Mas o que temos no caso do safári do Rei Juan Carlos não é
uma coisa nem outra. O caro monarca espanhol mostra com o último acontecimento,
tudo aquilo que ele e a maioria de reis e rainhas na Europa há muito tempo não são,
líderes.
E a humanidade, na figura do mundo globalizado, pinta um
retrato de si mesma, deixando claro que discurso no lugar de real preocupação não
é exclusividade de políticos e governantes.
As primeiras manchetes do caso e as reações mais calorosas
inicialmente, davam conta do fato de Juan Carlos ser Presidente da WWF,
entidade defensora do meio ambiente dos animais. A turba se referia à incoerência
do Senhor Juan, defender os animais e matar um elefante por esporte. Sim, é
incoerente e não, hoje não há mais lugar pra caça dita esportiva principalmente
para um representante reconhecido de todo um país.
Mas o que deveria chamar a atenção, em tese, deveria ser o
homem e não um elefante.
Quando em meio há uma crise que bate forte em seu país, o
Rei de Espanha vai a um safári e antes de matar qualquer animal, ele mostra
desprezo pelo homem, seu antigamente chamado súdito e hoje cidadão de seu
país.
Com sua gastança bonachona, mostra que não dá importância
para o que está acontecendo, para como a população está, que isso gera descrédito
para o seu país, que só piora o clima interno, dificultando ainda mais a situação.
Em um momento de crise esperava-se no mínimo discrição do monarca. Como no caso
retratado no ganhador do Oscar, O discurso do Rei, em que ele unicamente
precisava acalmar a população em uma situação de crise. Não ia tomar atitude
nenhuma, não tinha poder prático para isso, apenas precisava mostrar seriedade
e tranqüilizar o povo.
Mas e o povo?
O povo erra da mesma forma, principalmente fora das
fronteiras espanholas. Em vez de enxergar esse desprezo do Rei Juan Carlos
pelos milhões de cidadão de seu país colocam o foco em um elefante. Que se
danem as pessoas! Que absurdo, um elefante morreu!
Vivemos em um momento de inversão total de valores (aliás
falar, valores é quase proibido hoje em dia, quando alguém ouve essa palavra
entende “moralismo”). Por causa de nossos próprios erros, preferimos o discurso
a lutarmos pela humanidade. Pensamos no conceito, e não no homem. Conceito de
meio ambiente, conceito de sustentabilidade, conceito de convivência, conceito
de tolerância, conceito de mundo global, conceito de cidadania. Bonito passou a
ser o conceito, quando a finalidade de todos eles deveria ser a coletividade. Ser sim sustentável, tolerante (palavra ruim), cidadão, global em prol da coletividade
e não da beleza do discurso.
Matar um elefante por brincadeira é absurdo. Ignorar milhões
de pessoas é muito pior. E isso a gente faz todos os dias pelas ruas e até com
quem está próximo. Por que razão um Rei não faria com pessoas das quais ele nem
chega perto?
Povo em crise? Que comam brioches!
A morte do elefante, embora estúpida, foi consequência do descaso bem observado por você.
ResponderExcluirDizem que quem maltrata um animal, maltrata seu semelhante, mas o correto é o inverso: quem não está nem aí para seu semelhante, fere o animal ou o trata como um deus.